REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 34ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Levantai, ó Deus, o ânimo dos vossos filhos e filhas,
para que, aproveitando melhor as vossas graças,
obtenham de vossa paternal bondade mais poderosos auxílios.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 21,
5-11)
Naquele tempo, 5Como lhe chamassem a atenção para a
construção do templo feito de belas pedras e recamado de ricos donativos, Jesus
disse: 6Dias virão em que destas coisas que vedes não ficará pedra
sobre pedra: tudo será destruído. 7Então o interrogaram: Mestre,
quando acontecerá isso? E que sinal haverá para saber-se que isso se vai
cumprir? 8Jesus respondeu: Vede que não sejais enganados. Muitos
virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e ainda: O tempo está próximo. Não sigais
após eles. 9Quando ouvirdes falar de guerras e de tumultos, não vos
assusteis; porque é necessário que isso aconteça primeiro, mas não virá logo o
fim. 10Disse-lhes também: Levantar-se-ão nação contra nação e reino
contra reino. 11Haverá grandes terremotos por várias partes, fomes e
pestes, e aparecerão fenômenos espantosos no céu. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 21, 5-11
* No evangelho de hoje começa o último
discurso de Jesus, chamado Discurso
Apocalíptico. É um longo discurso, que será o assunto dos evangelhos dos
próximos dias até o fim desta última semana do ano eclesiástico. Para nós do
Século XXI, a linguagem apocalíptica é estranha e confusa. Mas para o povo
pobre e perseguido das comunidades cristãs daquele tempo era a fala que todos
entendiam e cujo objetivo principal era animar
a fé e a esperança dos pobres e oprimidos. A linguagem apocalíptica é fruto
da teimosia da fé destes pobres que, apesar das perseguições e contra todas as
aparências em contrário, continuavam a crer que Deus estava com eles e que Ele
continuava sendo o Senhor da história.
* Lucas
21,5-7: Introdução ao Discurso Apocalíptico.
Nos dias anteriores ao Discurso Apocalíptico, Jesus tinha
rompido com o Templo (Lc 19,45-48), com os sacerdotes e os anciãos (Lc
20,1-26), com os saduceus (Lc 20,27-40), com os escribas que exploravam as
viúvas (Lc 20,41-47) e no fim, como vimos no evangelho de ontem, terminou
elogiando a viúva que deu em esmola tudo que possuía (Lc 21,1-4). Agora, no
evangelho de hoje, ouvindo como “algumas
pessoas comentavam sobre o Templo, enfeitado com pedras bonitas e com coisas
dadas em promessa”, Jesus responde anunciando a destruição total do Templo:
"Vocês estão admirando essas coisas?
Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído." Ouvindo este comentário de Jesus, os
discípulos perguntam: "Mestre,
quando vai acontecer isso? Qual será o sinal de que essas coisas estarão para
acontecer?" Eles querem
mais informação. O Discurso Apocalíptico
que segue é a resposta de Jesus a esta pergunta dos discípulos sobre o quando e o como da destruição do
Templo. O evangelho de Marcos informa o seguinte sobre o contexto em que Jesus
pronunciou este discurso. Ele diz que Jesus tinha saído da cidade e estava
sentado no Monte das Oliveiras (Mc 13,2-4). Lá do alto do Monte ele tinha uma
visão majestosa sobre o Templo. Marcos informa ainda que havia só quatro
discípulos para escutar o último discurso. No início da sua pregação, três anos
antes, lá na Galiléia, as multidões iam atrás de Jesus para escutar suas
palavras. Agora, no último discurso, há apenas quatro ouvintes: Pedro, Tiago,
João e André (Mc 13,3). Eficiência e bom resultado nem sempre se medem pela
quantidade!
* Lucas
21,8: Objetivo do discurso: "Não se deixem enganar!"
Os discípulos tinham perguntado: "Mestre, quando vai acontecer isso?
Qual será o sinal de que essas coisas estarão para acontecer?” Jesus começa
a sua resposta com uma advertência: "Cuidado
para que vocês não sejam enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo:
'Sou eu!' E ainda: 'O tempo já chegou'. Não sigam essa gente”. Em época de
mudanças e de confusão sempre aparecem pessoas que querem tirar proveito da
situação enganando os outros. Isto acontece hoje e estava acontecendo nos anos
80, época em que Lucas escreve o seu evangelho. Diante dos desastres e guerras
daqueles anos, diante da destruição de Jerusalém do ano 70 e diante da
perseguição dos cristãos pelo império romano, muitos pensavam que o fim dos
tempos estivesse chegando. Havia até gente que dizia: “Deus já não controla
mais os fatos! Estamos perdidos!” Por isso, a preocupação principal dos
discursos apocalípticos é sempre a mesma: ajudar as comunidades a discernir
melhor os sinais dos tempos para não serem enganadas pelas conversas do povo
sobre o fim do mundo: "Cuidado para
que vocês não sejam enganados!". Em seguida, vem o discurso que
oferece sinais para ajudá-los no discernimento e, assim, aumentar neles a
esperança.
3. Lucas 21,9-11: Sinais para ajudar a ler os fatos.
Depois desta breve introdução,
começa o discurso propriamente dito:
“Quando vocês ouvirem falar de guerras e revoluções, não fiquem apavorados.
Primeiro, essas coisas devem acontecer, mas não será logo o fim." E Jesus
continuou: "Uma nação lutará contra outra, um reino contra outro reino.
Haverá grandes terremotos, fome e pestes em vários lugares. Vão acontecer
coisas pavorosas e grandes sinais vindos do céu.". Para entender bem
estas palavras, é bom lembrar o seguinte. Jesus vivia e falava no ano 33. Os
leitores de Lucas viviam e escutavam no ano 85. Ora, nos cinquenta anos entre o
ano 33 e o ano 85, a maioria das coisas mencionadas por Jesus já tinham
acontecido e eram do conhecimento de todos. Por exemplo, em várias partes do
mundo havia guerras, apareciam falsos messias, surgiam doenças e pestes e, na
Ásia Menor, os terremotos eram frequentes. Num estilo bem apocalíptico, o
discurso enumera todos estes acontecimentos, um depois do outro, como sinais ou
como etapas do projeto de Deus em andamento na história do Povo de Deus, desde
a época de Jesus até o fim dos tempos:
1º sinal: os falsos
messias (Lc 21,8);
2º sinal: guerra e
revoluções (Lc 21,9);
3º sinal: nação
lutará contra outra nação, um reino contra outro reino (Lc 21,10);
4º sinal: terremotos
em vários lugares (Lc 21,11);
5º sinal: fome,
peste e sinais no céu (Lc 21,11);
Até aqui vai o
evangelho de hoje. O evangelho de amanhã traz mais um sinal: a perseguição das
comunidades cristãs (Lc 21,12). O evangelho de depois de amanhã traz mais dois
sinais: a destruição de Jerusalém e o início da desintegração da criação.
Assim, por meio destes sinais do Discurso
Apocalíptico, as comunidades dos anos oitenta, época em que Lucas escreve o
seu evangelho, podiam calcular a que altura se encontrava a execução do plano
de Deus, e descobrir que a história não tinha escapado da mão de Deus. Tudo
estava conforme tinha sido previsto e anunciado por Jesus no Discurso Apocalíptico.
4) Para um confronto pessoal
1. Qual o sentimento
que você teve durante a leitura deste evangelho de hoje? De medo ou de paz?
2. Você acha que o
fim do mundo está próximo? O que responder aos que dizem que o fim do mundo
está próximo? O que, hoje, anima o povo a resistir e ter esperança?
5) Oração final
Alegrem-se diante do SENHOR,
pois ele vem, ele vem julgar a terra.
Julgará o mundo com justiça
e com sua fidelidade todas as nações.
(Sl 95, 13-14)
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