REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sexta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Senhor nosso
Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois
só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 19,45-48)
Naquele
tempo: 19,45Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os
vendedores. 46E disse: 'Está escrito: 'Minha casa será casa de
oração'. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões.' 47Jesus
ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os
notáveis do povo procuravam modo de matá-lo. 48Mas não sabiam o que
fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar. Palavra da
Salvação.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje descreve como Jesus entrou no Templo e
expulsou de lá os vendedores. A religião era usada para explorar o povo e
enriquecer uma elite.
* Lucas 19,45: A
expulsão dos vendedores do templo.
Chegando no Templo, Jesus faz um gesto violento: “Começou a expulsar os vendedores”. No evangelho de Marcos se diz que “derrubou as mesas dos cambistas e as
cadeiras dos vendedores de pombas. Ele não deixava ninguém carregar nada
através do Templo” (Mc 11,15-16). E no evangelho de João chegou a usar um
chicote de cordas para ameaçar o pessoal (Jo 2,15). Conforme o gesto simbólico
de Jesus, descrito por Marcos (Mc 11,12-14), o Templo de Jerusalém, do jeito
que estava funcionando, não passava de uma árvore frondosa, bonita, cheia de
folhas, mas sem oferecer fruto para o povo faminto que buscava o Deus da vida.
Por isso, num gesto violento de autoridade, Jesus declara encerrado o
expediente do Templo e põe fim ao culto da maneira como este estava sendo
realizado. Já não tinha mais sentido: “Nunca mais ninguém coma do teu fruto!” (Mc
11,14.20).
* Lucas 19,46: O que estava errado no culto do Templo?
E disse: "Está
nas Escrituras: 'Minha casa será casa de oração'. No entanto, vocês fizeram
dela um antro de ladrões."
Jesus cita dois profetas: Isaías e Jeremias. Isaías dizia que o Templo devia
ser uma casa de oração para todos os
povos (Is 56,7). A realidade, porém, era outra. Estrangeiros, mulheres e
pessoas consideradas impuras não podiam entrar no templo. Eram excluídas. Por
meio deste texto de Isaías, Jesus ensina que o Templo deve ser não um lugar de
exclusão, mas sim de inclusão. Deve estar aberto para todos. Jeremias dizia que o Templo tinha sido transformado num
“covil de ladrões” (Jr 7,11). O mesmo
estava acontecendo no tempo de Jesus. Assim, citando Jeremias, Jesus denuncia o
mau uso do Templo. A religião não pode ser usada para explorar o povo nem para
sustentar e legitimar os privilégios da classe dirigente.
* Lucas 19,47-48: As
autoridades decidem matar Jesus.
Os chefes dos sacerdotes, os doutores e os anciãos,
incomodados pelo gesto de Jesus, decidem matá-lo. Mas eles têm medo do povo que
estava maravilhado com o ensinamento de Jesus. À tardezinha, diante das ameaças
das autoridades, Jesus sai de novo da cidade e volta para Betânia, o nome
significa Casa da Pobreza.
* A contradição do Templo: casa de oração e
covil de ladrões
Na festa de Páscoa o povo romeiro vinha caminhando,
dos lugares mais distantes para encontrar-se com Deus no Templo. O Templo
ficava no alto de um pequeno morro na zona norte-nordeste da cidade, chamado
Monte Sião. O povo observava a beleza do Templo, a firmeza das muralhas e a
grandeza das montanhas ao redor. Esse conjunto imponente fazia lembrar a
proteção de Deus. Por isso rezava: "Aqueles
que confiam em Javé são como o monte Sião: ele nunca se abala, está firme para
sempre. Jerusalém é rodeada de montanhas, assim Javé envolve o seu povo, desde
agora e para sempre" (Sl 125,1-2). Em Jerusalém estavam também a sede
do Governo, o palácio dos chefes e a casa dos sacerdotes e doutores. Todos
estes diziam exercer o poder em nome de Javé, mas na realidade, muitos deles
exploravam o povo com tributos e impostos. Usavam a religião como instrumento
para se enriquecer e para fortalecer a sua dominação sobre a consciência do
povo. Transformaram o Templo, a Casa de Deus, num “covil de ladrões” (Jr 7,11;
cf. Lc 19,46; Mc 11,17). Uma contradição pesava sobre o Templo. De um lado,
lugar de encontro e de reabastecimento da consciência e da fé. De outro lado,
fonte de alienação e de exploração do povo. Hoje também permanece a mesma
contradição: de um lado, devemos contribuir para a conservação das igrejas e a
digna manutenção do culto. De outro lado, tem gente que se aproveita disso para
se enriquecer. A expulsão dos vendedores ajuda a compreender o motivo pelo qual
os homens do poder decidiram matar Jesus. O Templo, aquela figueira bonita e
frondosa, deveria dar fruto, mas não estava dando, pois uma elite de
sacerdotes, anciãos e escribas tinha-se apoderado dele e o tinha transformado
numa fonte de lucro e num instrumento de dominação das consciências (cf. Mc
11,13-14). O comércio dos animais, destinados aos sacrifícios no Templo, era
controlado pelas famílias dos Sumos Sacerdotes a um preço mais alto do que no
mercado comum na cidade. Só na noite de páscoa, eram imolados milhares e
milhares de ovelhas! Com este lucro injusto eles faziam caridade para os
pobres! O Reino anunciado por Jesus coloca um ponto final a esta exploração,
simbolizada pelos vendedores, compradores e cambistas do Templo: “Ninguém
jamais coma do teu fruto!” Jesus traz um novo tipo de religião, em que o acesso
a Deus se faz através da fé (Mc 11,22-23), da oração (Mc 11,24) e da
reconciliação (Mc 11,15-26). Por isso mesmo, os chefes não gostaram da ação de
Jesus e decidiram eliminá-lo.
4) Para um confronto pessoal
1. Você conhece casos de pessoas ou de
instituições que se aproveitam da religião para se enriquecer ou para levar uma
vida mais fácil? Qual tem sido a sua
reação diante destes abusos?
2. Se Jesus aparecesse hoje e se entrasse na igreja ou
no templo da nossa comunidade, o que diria e faria?
5) Oração final
Felizes os que procedem com
retidão,
os que caminham na lei do Senhor.
Felizes os que guardam seus
testemunhos
e o procuram de
todo o coração. (Sl 118,1-2)
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