19 de nov. de 2013

Sexta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Sexta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum


1) Oração

Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho   (Lucas 19,45-48)

Naquele tempo: 19,45Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores. 46E disse: 'Está escrito: 'Minha casa será casa de oração'. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões.' 47Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-lo. 48Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar. Palavra da Salvação.

3) Reflexão
*  O evangelho de hoje descreve como Jesus entrou no Templo e expulsou de lá os vendedores. A religião era usada para explorar o povo e enriquecer uma elite.
Lucas 19,45: A expulsão dos vendedores do templo.
Chegando no Templo, Jesus faz um gesto violento: “Começou a expulsar os vendedores”.  No evangelho de Marcos se diz que “derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos vendedores de pombas. Ele não deixava ninguém carregar nada através do Templo” (Mc 11,15-16). E no evangelho de João chegou a usar um chicote de cordas para ameaçar o pessoal (Jo 2,15). Conforme o gesto simbólico de Jesus, descrito por Marcos (Mc 11,12-14), o Templo de Jerusalém, do jeito que estava funcionando, não passava de uma árvore frondosa, bonita, cheia de folhas, mas sem oferecer fruto para o povo faminto que buscava o Deus da vida. Por isso, num gesto violento de autoridade, Jesus declara encerrado o expediente do Templo e põe fim ao culto da maneira como este estava sendo realizado. Já não tinha mais sentido: “Nunca mais ninguém coma do teu fruto!” (Mc 11,14.20).
Lucas 19,46O que estava errado no culto do Templo?
E disse: "Está nas Escrituras: 'Minha casa será casa de oração'. No entanto, vocês fizeram dela um antro de ladrões." Jesus cita dois profetas: Isaías e Jeremias. Isaías dizia que o Templo devia ser uma casa de oração para todos os povos (Is 56,7). A realidade, porém, era outra. Estrangeiros, mulheres e pessoas consideradas impuras não podiam entrar no templo. Eram excluídas. Por meio deste texto de Isaías, Jesus ensina que o Templo deve ser não um lugar de exclusão, mas sim de inclusão. Deve estar aberto para todos. Jeremias dizia que o Templo tinha sido transformado num “covil de ladrões” (Jr 7,11). O mesmo estava acontecendo no tempo de Jesus. Assim, citando Jeremias, Jesus denuncia o mau uso do Templo. A religião não pode ser usada para explorar o povo nem para sustentar e legitimar os privilégios da classe dirigente.
Lucas 19,47-48: As autoridades decidem matar Jesus.
Os chefes dos sacerdotes, os doutores e os anciãos, incomodados pelo gesto de Jesus, decidem matá-lo. Mas eles têm medo do povo que estava maravilhado com o ensinamento de Jesus. À tardezinha, diante das ameaças das autoridades, Jesus sai de novo da cidade e volta para Betânia, o nome significa Casa da Pobreza.
*  A contradição do Templo: casa de oração e covil de ladrões
Na festa de Páscoa o povo romeiro vinha caminhando, dos lugares mais distantes para encontrar-se com Deus no Templo. O Templo ficava no alto de um pequeno morro na zona norte-nordeste da cidade, chamado Monte Sião. O povo observava a beleza do Templo, a firmeza das muralhas e a grandeza das montanhas ao redor. Esse conjunto imponente fazia lembrar a proteção de Deus. Por isso rezava: "Aqueles que confiam em Javé são como o monte Sião: ele nunca se abala, está firme para sempre. Jerusalém é rodeada de montanhas, assim Javé envolve o seu povo, desde agora e para sempre" (Sl 125,1-2). Em Jerusalém estavam também a sede do Governo, o palácio dos chefes e a casa dos sacerdotes e doutores. Todos estes diziam exercer o poder em nome de Javé, mas na realidade, muitos deles exploravam o povo com tributos e impostos. Usavam a religião como instrumento para se enriquecer e para fortalecer a sua dominação sobre a consciência do povo. Transformaram o Templo, a Casa de Deus, num “covil de ladrões” (Jr 7,11; cf. Lc 19,46; Mc 11,17). Uma contradição pesava sobre o Templo. De um lado, lugar de encontro e de reabastecimento da consciência e da fé. De outro lado, fonte de alienação e de exploração do povo. Hoje também permanece a mesma contradição: de um lado, devemos contribuir para a conservação das igrejas e a digna manutenção do culto. De outro lado, tem gente que se aproveita disso para se enriquecer. A expulsão dos vendedores ajuda a compreender o motivo pelo qual os homens do poder decidiram matar Jesus. O Templo, aquela figueira bonita e frondosa, deveria dar fruto, mas não estava dando, pois uma elite de sacerdotes, anciãos e escribas tinha-se apoderado dele e o tinha transformado numa fonte de lucro e num instrumento de dominação das consciências (cf. Mc 11,13-14). O comércio dos animais, destinados aos sacrifícios no Templo, era controlado pelas famílias dos Sumos Sacerdotes a um preço mais alto do que no mercado comum na cidade. Só na noite de páscoa, eram imolados milhares e milhares de ovelhas! Com este lucro injusto eles faziam caridade para os pobres! O Reino anunciado por Jesus coloca um ponto final a esta exploração, simbolizada pelos vendedores, compradores e cambistas do Templo: “Ninguém jamais coma do teu fruto!” Jesus traz um novo tipo de religião, em que o acesso a Deus se faz através da fé (Mc 11,22-23), da oração (Mc 11,24) e da reconciliação (Mc 11,15-26). Por isso mesmo, os chefes não gostaram da ação de Jesus e decidiram eliminá-lo.

4) Para um confronto pessoal
1. Você conhece casos de pessoas ou de instituições que se aproveitam da religião para se enriquecer ou para levar uma vida mais fácil? Qual tem sido a sua reação diante destes abusos?
2. Se Jesus aparecesse hoje e se entrasse na igreja ou no templo da nossa comunidade, o que diria e faria?

5) Oração final
Felizes os que procedem com retidão,
os que caminham na lei do Senhor.
Felizes os que guardam seus testemunhos
e o procuram de todo o coração. (Sl 118,1-2)



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