11 de nov. de 2013

Sábado da 32ª Semana do Tempo Comum


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Sábado da 32ª Semana do Tempo Comum


1) Oração

Deus de poder e misericórdia,
afastai de nós todo obstáculo para que,
inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho   (Lucas 18, 1-8)

Naquele tempo, 1Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo. 2Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma. 3Na mesma cidade vivia também uma viúva que vinha com frequência à sua presença para dizer-lhe: Faze-me justiça contra o meu adversário. 4Ele, porém, por muito tempo não o quis. Por fim, refletiu consigo: Eu não temo a Deus nem respeito os homens; 5todavia, porque esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me molestar. 6Prosseguiu o Senhor: Ouvis o que diz este juiz injusto? 7Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los? 8Digo-vos que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra? - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  O Evangelho de hoje traz um outro assunto muito caro a Lucas, a saber, a  oração. É a segunda vez que Lucas traz palavras de Jesus para ensinar como rezar. Na primeira vez (Lc 11,1-13), ensinou o Pai-Nosso e, por meio de comparações e parábolas, ensinou que devemos rezar com insistência sem esmorecer. Agora, nesta segunda vez (Lc 18,1-8), ele recorre novamente a uma parábola tirada da vida para ensinar a insistência na oração. É a parábola da viúva que incômoda o juiz sem moral.  A maneira de apresentar a parábola é muito didática. Primeiro, Lucas dá uma breve introdução que serve como chave de leitura. Em seguida, Jesus conta a parábola. No fim, o próprio Jesus faz a aplicação.
Lucas 18,1: A introdução
Lucas introduz a parábola com a seguinte frase: "Contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais desanimar". A recomendação para “orar sem desanimar” aparece muitas vezes no Novo Testamento (1 Tes 5,17; Rm 12,12; Ef 6,18; etc). Este é um traço característico da espiritualidade das primeiras comunidades cristãs.
Lucas 18,2-5: A parábola
Em seguida, Jesus traz dois personagens da vida real: um juiz sem consideração por Deus e sem consideração para com as pessoas, e uma viúva que luta pelos seus direitos junto do juiz. O simples fato de Jesus trazer estes dois personagens revela a consciência crítica que ele tinha da sociedade do seu tempo. A parábola apresenta o povo pobre lutando no tribunal pelos seus direitos. O juiz resolve atender à viúva e fazer-lhe justiça. O motivo é este: ficar livre da chateação da viúva e não ser esbofeteado por ela. Motivo bem interesseiro. Mas a viúva conseguiu o que ela queria! Este é o fato da vida diária, usado por Jesus para ensinar como rezar.
Lucas 18,6-8: A aplicação
Jesus aplica a parábola: "Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa”. Se não fosse Jesus, nós não teríamos tido a coragem de comparar Deus com um Juiz ateu sem moral! No fim, Jesus expressa uma dúvida: "Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?" Ou seja, será que vamos ter a coragem de esperar, de ter paciência, mesmo que Deus demore em atender?
Jesus orante. Os primeiros cristãos conservaram uma imagem de Jesus orante, em contato permanente com o Pai. De fato, a respiração da vida de Jesus era fazer a vontade do Pai (Jo 5,19). Jesus rezava muito e insistia, para que o povo e seus discípulos também rezassem. Pois é no confronto com Deus, que a verdade aparece e que a pessoa se encontra consigo mesma em toda a sua realidade e humildade.  Lucas é o evangelista que mais nos informa sobre a vida de oração de Jesus. Ele apresenta Jesus em constante oração. Eis alguns dos momentos em que Jesus aparece rezando. Você pode completar a lista:
* Aos doze anos de idade, ele vai no Templo, na Casa do Pai (Lc 2,46-50).
* Na hora de ser batizado e de assumir a missão, ele reza (Lc 3,21).
* Na hora de iniciar a missão, passa quarenta dias no deserto (Lc 4,1-2).
* Na hora da tentação, ele enfrenta o diabo com textos da Escritura (Lc 4,3-12).
* Jesus tem o costume de participar das celebrações nas sinagogas aos sábados (Lc 4,16)
* Procura a solidão do deserto para rezar ( Lc 5,16; 9,18).
* Na véspera de escolher os doze Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12).
* Reza antes das refeições (Lc 9,16; 24,30).
* Na hora de fazer levantamento da realidade e de falar da sua paixão, ele reza (Lc 9,18).
* Na crise, sobe o Monte para rezar e é transfigurado enquanto reza (Lc 9,28).
* Diante da revelação do Evangelho aos pequenos, ele diz: “Pai eu te agradeço!” (Lc 10,21)
* Rezando, desperta nos apóstolos vontade de rezar (Lc 11,1).
* Rezou por Pedro para ele não desfalecer na fé (Lc 22,32).
* Celebra a Ceia Pascal com seus discípulos (Lc 22,7-14).
* No Horto das Oliveiras, ele reza, mesmo suando sangue (Lc 22,41-42).
* Na angústia da agonia pede aos amigos para rezar com ele (Lc 22,40.46).
* Na hora de ser pregado na cruz, pede perdão pelos carrascos (Lc 23,34).
* Na hora da morte, ele diz: "Em tuas mãos entrego meu espírito!" (Lc 23,46; Sl 31,6)
* Jesus morre soltando o grito do pobre (Lc 23,46).
*  Esta longa lista mostra o seguinte. Para Jesus, a oração estava intimamente ligada à vida, aos fatos concretos, às decisões que devia tomar. Para poder ser fiel ao projeto do Pai, ele buscava ficar a sós com ele. Escutá-lo. Nos momentos difíceis e decisivos de sua vida, Jesus rezava os Salmos. Como todo judeu piedoso, conhecia-os de memória. A recitação dos Salmos não matou nele a criatividade. Pelo contrário. Jesus chegou a fazer um salmo que ele transmitiu para nós. É o Pai Nosso. Sua vida era uma oração permanente: "Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra para fazer!" (Jo 5,19.30) A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu sou oração!" (Sl 109,4)

4) Para um confronto pessoal
1. Tem gente que diz que não sabe rezar, mas conversa com Deus o dia todo. Você conhece pessoas assim? Conte. Há muitas maneiras do povo hoje expressar a sua devoção e oração. Quais?
2. O que estas duas parábolas nos ensinam sobre a oração? O que elas nos ensinam sobre a maneira de ver a vida e as pessoas?

5) Oração final
Feliz quem teme o Senhor
e muito se alegra nos seus mandamentos.
Poderosa sobre a terra será sua descendência,
a posteridade dos justos será abençoada. (Sl 111, 1-2)


Nenhum comentário:

Postar um comentário