REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 32ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus de poder e
misericórdia,
afastai de nós todo obstáculo
para que,
inteiramente disponíveis,
nos dediquemos ao vosso serviço.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 18, 1-8)
Naquele tempo, 1Propôs-lhes Jesus
uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de
fazê-lo. 2Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem
respeitava pessoa alguma. 3Na mesma cidade vivia também uma viúva
que vinha com frequência à sua presença para dizer-lhe: Faze-me justiça contra
o meu adversário. 4Ele, porém, por muito tempo não o quis. Por fim,
refletiu consigo: Eu não temo a Deus nem respeito os homens; 5todavia,
porque esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me
molestar. 6Prosseguiu o Senhor: Ouvis o que diz este juiz injusto? 7Por
acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia
e noite? Porventura tardará em socorrê-los? 8Digo-vos que em breve
lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a
terra? - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O
Evangelho de hoje traz um outro assunto muito caro a Lucas, a saber, a oração.
É a segunda vez que Lucas traz palavras de Jesus para ensinar como rezar. Na
primeira vez (Lc 11,1-13), ensinou o Pai-Nosso e, por meio de comparações e
parábolas, ensinou que devemos rezar com insistência sem esmorecer. Agora,
nesta segunda vez (Lc 18,1-8), ele recorre novamente a uma parábola tirada da
vida para ensinar a insistência na oração. É a parábola da viúva que incômoda o juiz sem moral. A maneira de apresentar a parábola é muito didática.
Primeiro, Lucas dá uma breve introdução que serve como chave de leitura. Em
seguida, Jesus conta a parábola. No fim, o próprio Jesus faz a aplicação.
* Lucas 18,1: A introdução
Lucas introduz a
parábola com a seguinte frase:
"Contou-lhes ainda uma parábola para mostrar a necessidade de orar sempre,
sem jamais desanimar". A recomendação para “orar sem desanimar”
aparece muitas vezes no Novo Testamento (1 Tes 5,17; Rm 12,12; Ef 6,18; etc).
Este é um traço característico da espiritualidade das primeiras comunidades
cristãs.
* Lucas 18,2-5: A parábola
Em seguida,
Jesus traz dois personagens da vida real: um juiz sem consideração por Deus e
sem consideração para com as pessoas, e uma viúva que luta pelos seus direitos
junto do juiz. O simples fato de Jesus trazer estes dois personagens revela a
consciência crítica que ele tinha da sociedade do seu tempo. A parábola
apresenta o povo pobre lutando no tribunal pelos seus direitos. O juiz resolve
atender à viúva e fazer-lhe justiça. O motivo é este: ficar livre da chateação
da viúva e não ser esbofeteado por ela. Motivo bem interesseiro. Mas a viúva
conseguiu o que ela queria! Este é o fato da vida diária, usado por Jesus para
ensinar como rezar.
* Lucas 18,6-8: A aplicação
Jesus aplica a
parábola: "Escutem o que está
dizendo esse juiz injusto. E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que
dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu lhes declaro que
Deus fará justiça para eles, e bem depressa”. Se não fosse Jesus, nós não
teríamos tido a coragem de comparar Deus com um Juiz ateu sem moral! No fim,
Jesus expressa uma dúvida: "Mas, o
Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?"
Ou seja, será que vamos ter a coragem de esperar, de ter paciência, mesmo que
Deus demore em atender?
* Jesus
orante. Os primeiros cristãos conservaram uma imagem de Jesus orante, em contato permanente com
o Pai. De fato, a respiração da vida de Jesus era fazer a vontade do Pai (Jo
5,19). Jesus rezava muito e insistia, para que o povo e seus discípulos também
rezassem. Pois é no confronto com Deus, que a verdade aparece e que a pessoa se
encontra consigo mesma em toda a sua realidade e humildade. Lucas é o evangelista que mais nos
informa sobre a vida de oração de Jesus. Ele apresenta Jesus em constante
oração. Eis alguns dos momentos em que Jesus aparece rezando. Você pode
completar a lista:
* Aos doze anos de idade, ele vai no Templo, na Casa
do Pai (Lc 2,46-50).
* Na hora de ser batizado e de assumir a missão, ele
reza (Lc 3,21).
* Na hora de iniciar a missão, passa quarenta dias no
deserto (Lc 4,1-2).
* Na hora da tentação, ele enfrenta o diabo com textos
da Escritura (Lc 4,3-12).
* Jesus tem o costume de participar das celebrações
nas sinagogas aos sábados (Lc 4,16)
* Procura a solidão do deserto para rezar ( Lc 5,16;
9,18).
* Na véspera de escolher os doze Apóstolos, passa a
noite em oração (Lc 6,12).
* Reza antes das refeições (Lc 9,16; 24,30).
* Na hora de fazer levantamento da realidade e de
falar da sua paixão, ele reza (Lc 9,18).
* Na crise, sobe o Monte para rezar e é transfigurado
enquanto reza (Lc 9,28).
* Diante da revelação do Evangelho aos pequenos, ele
diz: “Pai eu te agradeço!” (Lc 10,21)
* Rezando, desperta nos apóstolos vontade de rezar (Lc
11,1).
* Rezou por Pedro para ele não desfalecer na fé (Lc
22,32).
* Celebra a Ceia Pascal com seus discípulos (Lc
22,7-14).
* No Horto das Oliveiras, ele reza, mesmo suando
sangue (Lc 22,41-42).
* Na angústia da agonia pede aos amigos para rezar com
ele (Lc 22,40.46).
* Na hora de ser pregado na cruz, pede perdão pelos
carrascos (Lc 23,34).
* Na hora da morte, ele diz: "Em tuas mãos
entrego meu espírito!" (Lc 23,46; Sl 31,6)
* Jesus morre soltando o grito do pobre (Lc 23,46).
* Esta
longa lista mostra o seguinte. Para Jesus, a oração estava intimamente ligada à
vida, aos fatos concretos, às decisões que devia tomar. Para poder ser fiel ao
projeto do Pai, ele buscava ficar a sós com ele. Escutá-lo. Nos momentos difíceis
e decisivos de sua vida, Jesus rezava os Salmos. Como todo judeu piedoso,
conhecia-os de memória. A recitação dos Salmos não matou nele a criatividade.
Pelo contrário. Jesus chegou a fazer um salmo que ele transmitiu para nós. É o Pai Nosso. Sua vida era uma oração
permanente: "Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra para
fazer!" (Jo 5,19.30) A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu sou
oração!" (Sl 109,4)
4) Para um confronto pessoal
1. Tem gente que diz que não sabe rezar, mas conversa
com Deus o dia todo. Você conhece pessoas assim? Conte. Há muitas maneiras do
povo hoje expressar a sua devoção e oração. Quais?
2. O que estas duas parábolas nos ensinam sobre a
oração? O que elas nos ensinam sobre a maneira de ver a vida e as pessoas?
5) Oração final
Feliz quem teme o Senhor
e muito se alegra nos seus
mandamentos.
Poderosa sobre a terra será sua
descendência,
a posteridade
dos justos será abençoada. (Sl 111, 1-2)
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