REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quarta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Senhor nosso
Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois
só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 19,11-28)
Naquele tempo, 19,11Jesus acrescentou uma parábola,
porque estava perto de Jerusalém e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar
logo. 12Então Jesus disse: 'Um homem nobre partiu para um país
distante, a fim de ser coroado rei e depois voltar. 13Chamou então
dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata a cada um, e disse:
'Procurai negociar até que eu volte'. 14Seus concidadãos, porém, o
odiavam, e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: 'Nós não queremos que
esse homem reine sobre nós'. 15Mas o homem foi coroado rei e voltou.
Mandou chamar os empregados, aos quais havia dado o dinheiro, a fim de saber
quanto cada um havia lucrado. 16O primeiro chegou e disse: 'Senhor,
as cem moedas renderam dez vezes mais.' 17O homem disse: 'Muito bem,
servo bom. Como foste fiel em coisas pequenas, recebe o governo de dez
cidades'. 18O segundo chegou e disse: 'Senhor, as cem moedas
renderam cinco vezes mais'. 19O homem disse também a este: 'Recebe
tu também o governo de cinco cidades'. 20Chegou o outro empregado e
disse: 'Senhor, aqui estão as tuas cem moedas que guardei num lenço, 21pois
eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Recebes o que não deste e
colhes o que não semeaste'. 22O homem disse: 'Servo mau, eu te julgo
pela tua própria boca. Tu sabias que eu sou um homem severo, que recebo o que não
dei e colho o que não semeei. 23Então, porque tu não depositaste meu
dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros'. 24Depois
disse aos que estavam aí presentes: 'Tirai dele as cem moedas e dai-as àquele
que tem mil'. 25Os presentes disseram: 'Senhor, esse já tem mil
moedas!' 26Ele respondeu: 'Eu vos digo: a todo aquele que já possui,
será dado mais ainda; mas àquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem.
27E quanto a esses inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre
eles, trazei-os aqui e matai-os na minha frente'.' 28Jesus caminhava
à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Luca 19,11-28
* O evangelho de hoje traz a Parábola dos Talentos, na qual
Jesus fala dos dons que as pessoas recebem de Deus. Toda pessoa tem alguma
qualidade, recebe algum dom ou sabe alguma coisa que ela pode ensinar aos
outros. Ninguém é só aluno, ninguém é só professor. Aprendemos uns dos outros.
* Lucas 19,11: A
chave para entender a história da parábola
Para introduzir a parábola Lucas diz o seguinte:“Tendo eles ouvido isso, Jesus acrescentou
uma parábola, porque estava perto de Jerusalém, e eles pensavam que o Reino de Deus
ia chegar logo”. Nesta informação inicial, Lucas destaca três motivações
que levaram Jesus a contar a parábola: (1) A acolhida a ser dada aos excluídos,
pois, dizendo “tendo eles ouvido isso”, ele
se refere ao episódio de Zaqueu, o excluído, que foi acolhido por Jesus. (2) A
proximidade da paixão, morte e ressurreição, pois dizia que Jesus estava perto de Jerusalém onde seria preso e morto em breve. (3)
A chegada iminente do Reino de Deus, pois as pessoas que acompanhavam Jesus
pensavam que o Reino de Deus ia chegar
logo.
* Lucas 19,12-14: O
início da Parábola
“Um homem nobre partiu para um país distante a fim de ser coroado rei, e depois
voltar. Chamou então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata para
cada um, e disse: 'Negociem até que eu volte”. Seus concidadãos, porém, o odiavam, e enviaram uma embaixada atrás
dele, dizendo: 'Não queremos que esse homem reine sobre nós'. Alguns
estudiosos acham que, nesta parábola, Jesus se refere a Herodes que, setenta
anos antes (40 aC), tinha ido para Roma a fim de receber o título e o poder de
Rei da Palestina. O povo não gostava de Herodes e não queria que ele se
tornasse rei, pois a experiência que tiveram com ele como comandante para
reprimir as rebeliões na Galiléia contra Roma foi trágica e dolorosa. Por isso
diziam: “Não queremos que esse homem
reine sobre nós”. A este mesmo Herodes se aplicaria a frase final da
parábola: “E quanto a esses inimigos, que
não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam aqui, e matem na minha frente”. De fato, Herodes matou muita gente.
* Lucas 19,15-19: Prestação de conta dos primeiros
empregados que receberam cem moedas de prata
A história informa ainda que Herodes recebeu a realeza
e voltou para a Palestina para assumir o poder. Na parábola, o rei chamou os
empregados aos quais tinha dado cem moedas de prata, a fim de saber quanto
haviam lucrado. O primeiro chegou, e
disse: 'Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais'. O homem disse: 'Muito bem, empregado
bom. Como você foi fiel em coisas pequenas, receba o governo de dez cidades'. O
segundo chegou, e disse: 'Senhor, as cem moedas renderam cinco vezes mais'. O
homem disse também a este: 'Receba também você o governo de cinco cidades”. De
acordo com a história, tanto Herodes Magno como seu filho Herodes Antipas,
ambos sabiam lidar com dinheiro e promover as pessoas que os ajudavam. Na
parábola, o rei deu dez cidades ao empregado que multiplicou por dez as cem
moedas que tinha recebido, e cinco cidades a quem as multiplicou por cinco.
* Lucas 19,20-23: Prestação de conta do empregado
que não lucrou nada
O terceiro empregado chegou e disse: 'Senhor, aqui estão as cem moedas que
guardei num lenço. Pois eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Tomas o
que não deste, e colhes o que não semeaste'. Nesta frase transparece uma
idéia errada de Deus que é criticada por Jesus. O empregado vê Deus como um
patrão severo. Diante de um Deus assim, o ser humano sente medo e se esconde
atrás da observância exata e mesquinha da lei. Ele pensa que, agindo assim, não
será castigado pela severidade do legislador. Na realidade, uma pessoa assim já
não crê em Deus, mas crê apenas em si mesma, na sua própria observância da lei.
Ela se fecha em si, desliga de Deus e já não consegue preocupar-se com os
outros. Torna-se incapaz de crescer como pessoa livre. Esta imagem falsa de
Deus isola o ser humano, mata a comunidade, acaba com a alegria e empobrece a
vida. O rei responde: 'Empregado mau, eu
julgo você pela sua própria boca. Você sabia que eu sou um homem severo, que
tomo o que não dei, e colho o que não semeei. Então, por que você não depositou
meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros'. O empregado
não foi coerente com a imagem que tinha de Deus. Se ele imaginava Deus tão
severo, deveria ao menos ter colocado o dinheiro no banco. Ele é condenado não
por Deus, mas pela idéia errada que tinha de Deus e que o deixou mais medroso e
mais imaturo do que devia ser. Uma das coisas que mais influi na vida da gente
é a idéia que nos fazemos de Deus. Entre os judeus da linha dos fariseus,
alguns imaginavam Deus como um Juiz severo que os tratava de acordo com o
mérito conquistado pelas observâncias. Isto produzia medo e impedia as pessoas
de crescer. Sobretudo, impedia que elas abrissem um espaço dentro de si para
acolher a nova experiência de Deus que Jesus comunicava.
* Lucas 19,24-27: Conclusão
para todos
“Depois disse aos
que estavam aí presentes: Tirem dele as cem moedas, e dêem para aquele que tem
mil. Os presentes disseram: Senhor, esse já tem mil moedas! Ele respondeu: Eu
digo a vocês: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda. Mas daquele
que nada tem, será tirado até mesmo o que tem”. O senhor mandou tirar dele as cem moedas e dar àquele
que já tinha mil, pois “a todo aquele que
já possui, será dado mais ainda. Mas daquele que nada tem, será tirado até
mesmo o que tem. Nesta frase final está a chave que esclarece a parábola.
No simbolismo da parábola, as moedas de prata do rei são os bens do Reino de
Deus, isto é, tudo aquilo que faz a pessoa crescer e revela a presença de Deus:
amor, serviço, partilha. Quem se fecha em si com medo de perder o pouco que
tem, este vai perder até o pouco que tem. A pessoa, porém, que não pensa em si
mas se doa aos outros, esta vai crescer e receber de volta, de maneira inesperada,
tudo que entregou e muito mais: “cem vezes mais, com perseguições” (Mc 10,30).
“Perde a vida quem quer segurá-la, ganha a vida quem tem coragem de perdê-la”
(Lc 9,24; 17,33; Mt 10,39;16,25;Mc 8,35). O terceiro empregado teve medo e não
fez nada. Não quis perder nada e, por isso, não ganhou nada. Perdeu até o pouco
que tinha. O Reino é risco. Quem não quer correr risco, perde o Reino!
* Lucas 19,28: Voltando
à tríplice chave inicial
No fim, Lucas encerra o assunto com esta informação: Depois de dizer essas coisas, Jesus partiu
na frente deles, subindo para Jerusalém. Esta informação final evoca a
tríplice chave dada no início: acolhida a ser dada aos excluídos, proximidade
da paixão, morte e ressurreição de Jesus em Jerusalém e a idéia da chegada iminente
do Reino. Aos que pensavam que o Reino de Deus estivesse para chegar, a
parábola manda mudar os olhos. O Reino de Deus chega sim, mas através da morte
e ressurreição de Jesus que vai acontecer em breve em Jerusalém. E o motivo da
morte foi a acolhida que ele, Jesus, dava aos excluídos como Zaqueu e tantos
outros. Incomodou os grandes e eles o eliminaram condenando-o à morte de cruz,
4) Para um confronto pessoal
1. Na nossa comunidade, procuramos conhecer e
valorizar os dons de cada pessoa? Às vezes, os dons de uns geram inveja e
competição nos outros. Como reagimos?
2. Nossa comunidade é um espaço, onde as pessoas podem
desenvolver seus dons?
5) Oração final
Louvai a Deus no seu santuário,
louvai-o no firmamento do seu
poder.
Louvai-o por suas grandes obras,
louvai-o pela
sua imensa grandeza. (Sl 150,1-2)
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