REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quarta-feira da 32ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus de poder e misericórdia,
afastai de nós todo obstáculo para que,
inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 11-19)
11Aconteceu
que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e
da Galiléia. 12Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez
leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando: 13Jesus,
Mestre, tem compaixão de nós! 14Jesus viu-os e disse-lhes: Ide,
mostrai-vos ao sacerdote. E quando eles iam andando, ficaram curados. 15Um
deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. 16Prostrou-se
aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano. 17Jesus lhe
disse: Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove? 18Não
se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?! 19E
acrescentou: Levanta-te e vai, tua fé te salvou. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 17,11-19
* No
Evangelho de hoje, Lucas conta como Jesus curou dez leprosos, mas um só veio
agradecer. E este era um samaritano! A gratidão é um outro tema muito
próprio de Lucas: viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele
recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e
louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28.38; 5,25.26; 7,16;
13,13; 17,15.18; 18,43; 19,37; etc). O Evangelho de Lucas traz vários cânticos
e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc
1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
* Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém
Lucas
lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a
Galiléia. Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou
pela Samaria. Só agora está saindo da Samaria, passando pela Galiléia para
poder chegar em Jerusalém. Isto significa que os importantes ensinamentos,
dados nestes capítulos todos de 9 até 17, foram todos dados em território que
não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as
comunidades de Lucas, vindas do paganismo. Jesus, o peregrino, continua a sua
viagem até Jerusalém. Continua tirando as desigualdades que os homens criaram.
Continua a longa e dolorosa caminhada da periferia para a capital, de uma religião
fechada sobre si mesma para a religião aberta que sabe acolher os outros como
irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Esta abertura vai aparecer no
acolhimento dado aos dez leprosos.
* Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos
Dez
leprosos aproximam-se de Jesus, param de longe e gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós!" O leproso era uma
pessoa excluída. Era marginalizado e desprezado, sem o direito de conviver com
suas famílias. Segundo a lei da pureza, os leprosos deviam andar com roupa
rasgada e cabelos desgrenhados, gritando: “Impuro!
Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o
mesmo que buscar a pureza para poder ser reintegrados na comunidade. Não podiam
aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque num leproso causava
impureza e criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a Deus. Através
do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a
pureza. Obter a pureza significava
sentir-se, novamente, acolhido por Deus, e poder dirigir-se a Ele para receber
a bênção prometida a Abraão.
* Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura
Jesus
reponde: "Vão mostrar-se aos
sacerdotes!" (cf. Mc 1,44). Era o sacerdote que devia verificar a cura
e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exigia muita fé da
parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados,
quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles
acreditaram na palavra de Jesus e foram em direção ao sacerdote. E aconteceu que,
enquanto iam caminhando, manifestou-se a cura. Ficaram purificados. Esta cura
evoca a história da purificação de Naaman da Síria (2Rs 5,9-10). O profeta
Eliseu mandou o homem lavar-se no Jordão. Naaman tinha de crer na palavra do
profeta. Jesus mandou os dez apresentar-se aos sacerdotes. Eles tinham de crer
na palavra de Jesus.
* Lucas 17,15-16: Reação do samaritano
“Ao perceber que estava curado, um deles
voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de
Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.” Por que os outros não
voltaram? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o
samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia a tendência de
observar a lei para poder merecer ou
conquistar a justiça. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos
diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas
que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Talvez seja por isso que não
agradeceram o benefício recebido. Na parábola do evangelho de ontem, Jesus
tinha formulado a pergunta sobre a gratidão: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia
mandado?” (Lc 17,9) E a resposta era: “Não!”
O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que nós, seres
humanos, não temos mérito, nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar
pelo dom da própria vida!
* Lucas 17,17-19: A observação final de Jesus
Jesus
estranhou: “Os dez não ficaram
purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória
a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para Jesus, agradecer os outros pelo
benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste
ponto, os samaritanos davam lição aos judeus. Hoje são os pobres, que fazem o
papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da
vida. Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós
através do irmão e da irmã.
* A acolhida dada aos samaritanos no evangelho
de Lucas. Para Lucas, o lugar
que Jesus dava aos samaritanos é o mesmo que as comunidades deviam reservar aos
pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e
de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois, para os judeus,
samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios
interiores do Templo de Jerusalém, nem participar do culto. Eram considerados
portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de
Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos
de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não
depende dos méritos de ninguém.
4) Para um confronto pessoal
1. E você, costuma agradecer às
pessoas? Agradece por convicção ou por mero costume? E na oração: agradece ou
esquece?
2. Viver na gratidão é um sinal da
presença do Reino no meio de nós. Como transmitir para os outros a importância
de viver na gratidão e na gratuidade?
5) Oração final
O Senhor é o meu pastor,
nada me falta.
Ele me faz descansar em verdes prados,
a águas tranqüilas me conduz.
(Sl 22)
Muito bom
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