8 de out. de 2013

Segunda-feira da 27ª Semana do Tempo Comum


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA


(LECTIO DIVINA)


Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Segunda-feira da 27ª Semana do Tempo Comum


1) Oração

Ó Deus eterno e todo-poderoso,

que nos concedeis no vosso imenso amor de Pai
mais do que merecemos e pedimos,
derramai sobre nós a vossa misericórdia,
perdoando o que nos pesa na consciência
e dando-nos mais do que ousamos pedir.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 10,25-37)

25Levantou-se um doutor da lei e, para pô-lo à prova, perguntou: Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? 26Disse-lhe Jesus: Que está escrito na lei? Como é que lês? 27Respondeu ele: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento (Dt 6,5); e a teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). 28Falou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isto e viverás.29Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? 30Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. 31Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. 32Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. 33Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. 34Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. 35No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. 36Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? 37Respondeu o doutor: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo.

3) Reflexão
*  O evangelho de hoje traz a parábola do Bom Samaritano. Meditar uma parábola é o mesmo que aprofundar a vida, a fim de descobrir dentro dela os apelos de Deus. Ao descrever a longa viagem de Jesus a Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas ajuda as comunidades a entender melhor em que consiste a Boa Nova do Reino. Ele faz isto apresentando pessoas que vêm falar com Jesus e lhe fazem perguntas. Eram perguntas reais do povo do tempo de Jesus e eram também perguntas reais das comunidades do tempo de Lucas. Assim, no evangelho de hoje, um doutor da lei pergunta: "O que devo fazer para obter a vida eterna?" A resposta, tanto do doutor como de Jesus, ajuda a entender melhor o objetivo da Lei de Deus.
Lucas 10,25-26: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?"
  Um doutor, conhecedor da lei, quer provocar Jesus e pergunta: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?" O doutor acha que deve fazer algo para poder herdar. Ele quer garantir a herança pelo seu próprio esforço. Mas uma herança não se merece. Herança, nós a recebemos pelo simples fato de sermos filho ou filha.”Você já não é escravo, mas filho; e se é filho, é também herdeiro por vontade de Deus”. (Gal 4,7). Como filhos e filhas não podemos fazer nada para merecer a herança. Podemos é perdê-la!
Lucas 10,27-28: A resposta do doutor
  Jesus responde com uma nova pergunta: "O que diz a lei?" O doutor responde corretamente. Juntando duas frases da Lei, ele diz:  "Amar a Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo!" A frase vem do Deuteronômio (Dt 6,5) e do Levítico (Lv 19,18). Jesus aprova a resposta e diz: "Faz isto e viverás!" O importante, o principal, é amar a Deus! Mas Deus vem até mim no próximo. O próximo é a revelação de Deus para mim. Por isso, devo amar também o próximo de todo o meu coração, de toda a minha alma, com toda a minha força e com todo o meu entendimento!
Lucas 10,29: "E quem é o meu próximo?"
  Querendo justificar-se, o doutor pergunta: "E quem é o meu próximo?" Ele quer saber para si mesmo: "Em que próximo Deus vem até mim?" Ou seja, qual é a pessoa humana próxima de mim que é revelação de Deus para mim? Para os judeus, a expressão próximo estava ligada ao clã. Quem não era do clã, não era próximo. Conforme o Deuteronômio, eles podiam explorar ao “estrangeiro”, mas não ao “próximo” (Dt 15,1-3). A proximidade era baseada nos laços de raça e de sangue. Jesus tem outra maneira de ver, que ele expressa na parábola do Bom Samaritano.
4. Lucas 10,30-36: A parábola
      1. Lucas 10,30: O assalto na estrada de Jerusalém para Jericó
 Entre Jerusalém e Jericó encontra-se o deserto de Judá, refúgio de revoltosos, marginais e assaltantes. Jesus conta um caso real que deve ter acontecido muitas vezes. “Um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu na mão de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto”.
     2. Lucas 10,31-32: Passa um sacerdote, passa um levita
  Casualmente, passa um sacerdote e, em seguida, um levita. São funcionários do Templo, da religião oficial. Os dois viram o assaltado, mas passaram adiante. Não fizeram nada. Por que não fizeram nada? Jesus não o diz. Ele deixa você supor ou se identificar. Deve ter acontecido muitas vezes, tanto no tempo de Jesus como no tempo de Lucas. Acontece também hoje: uma pessoa de igreja passa perto de um pobre sem dar-lhe ajuda. Pode até ser que o sacerdote e o levita tenham tido a justificativa: "Ele não é meu próximo!" ou: "Ele está impuro e se eu tocar nele, ficarei impuro também!" E hoje: "Se eu ajudar, perco a missa do domingo e faço pecado mortal!"
     3. Lucas 10,33-35: Passa um samaritano
  Em seguida, chega um samaritano que estava de viagem. Ele vê, move-se de compaixão, aproxima-se, cuida das chagas, coloca o homem no seu próprio animal, leva-o até a hospedaria, cuida dele durante a noite e, no dia seguinte, dá ao dono da hospedaria dois denários, o salário de dois dias, dizendo: "Cuida dele e o que gastares a mais no meu regresso te pago!" É ação concreta e eficiente. É ação progressiva: chegar, ver, mover-se de compaixão, aproximar-se e partir para a ação. A parábola diz "um samaritano que estava de viagem". Jesus também estava em viagem até Jerusalém. Jesus é o bom samaritano. As comunidades devem ser o bom samaritano.
 *  Lucas 10,36-37: Quem dos três foi o próximo do homem assaltado?
  No início, o doutor tinha perguntado: "Quem é o meu próximo?" Por de trás da pergunta estava a preocupação consigo mesmo. Ele queria saber: "A quem Deus me manda amar, para que eu possa ter a consciência em paz e dizer: Fiz tudo que Deus pede de mim!" Jesus faz outra pergunta: "Quem dos três foi o próximo do homem assaltado?" A condição de próximo não depende da raça, do parentesco, da simpatia, da vizinhança ou da religião. A humanidade não está dividida em próximos e não-próximos. Para você saber quem é o seu próximo, isto depende de você chegar, ver, mover-se de compaixão e se aproximar. Se você se aproximar, o outro será o seu próximo! Depende de você e não do outro! Jesus inverteu tudo e tirou a segurança que a observância da lei poderia dar ao doutor.
 *  Os Samaritanos.
  A palavra samaritano vem de Samaria, capital do reino de Israel no Norte. Depois da morte de Salomão, em 931 antes de Cristo, as dez tribos do Norte se separaram do reino de Judá no Sul e formaram um reino independente (1Rs 12,1-33). O Reino do Norte sobreviveu durante uns 200 anos. Em 722, o seu território foi invadido pela Assíria. Grande parte da sua população foi deportada (2Rs 17,5-6) e gente de outros povos foram trazidos para Samaria (2Rs 17,24). Houve mistura de raça e de religião (2Rs 17,25-33). Desta mistura nasceram os samaritanos. Os judeus do Sul desprezavam os samaritanos como infiéis e adoradores de falsos deuses (2Rs 17,34-41). Havia muito preconceito contra os samaritanos. Eles eram malvistos. Dizia-se deles que tinham uma doutrina errada e que não faziam parte do povo de Deus. Alguns chegaram ao ponto de dizer que ser samaritano era coisa do diabo (Jo 8,48). Muito provavelmente, a causa deste ódio não era só a raça e a religião. Era também um problema político-econômico, ligado à posse da terra. Esta rivalidade perdurava ate o tempo de Jesus. Mesmo assim Jesus coloca os samaritanos como exemplo e modelo para os outros.

   4) Para um confronto pessoal
  1. O samaritano da parábola não era do povo judeu, mas era ele que fazia o que Jesus pede. Isto acontece hoje? Você conhece gente que não freqüenta a igreja mas vive o que evangelho pede? Quem são hoje o sacerdote, o levita e o samaritano?
   2. O doutor perguntou: “Quem é o meu  próximo?” Jesus perguntou: “Quem foi próximo do homem assaltado?” São duas perspectivas diferentes: o doutor pergunta a partir de si mesmo. Jesus pergunta a partir das necessidades do outro. Qual é a minha perspectiva?

5) Oração final
Louvarei o Senhor de todo o coração,
na assembléia dos justos e em seu conselho.
Grandes são as obras do Senhor,
dignas de admiração de todos os que as amam. (Sl 110, 1-2)



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