REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 22ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus do universo, fonte de
todo bem,
derramai em nossos corações
o vosso amor
e estreitai os laços que nos
unem convosco
para alimentar em nós o que
é bom
e guardar com solicitude o
que nos destes.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 4,16-30)
Naquele tempo, 16Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado.
Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para
ler. 17Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro,
escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): 18O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos
pobres, para sarar os contritos de coração, 19para anunciar aos
cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os
cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. 20E enrolando o
livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham
os olhos fixos nele. 21Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu
este oráculo que vós acabais de ouvir. 22Todos lhe davam testemunho
e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não
é este o filho de José? 23Então lhes disse: Sem dúvida me citareis
este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em
Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui na tua pátria. 24E
acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria. 25Em
verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se
fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; 26mas
a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27Igualmente
havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles
foi limpo, senão o sírio Naamã. 28A estas palavras, encheram-se
todos de cólera na sinagoga. 29Levantaram-se e lançaram-no fora da
cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a
sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. 30Ele, porém, passou
por entre eles e retirou-se. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas
4,16-30
* Hoje, segunda-feira da 22ª semana comum, começamos a
meditação do Evangelho de Lucas que se prolongará por três meses até o fim do
ano eclesiástico. O evangelho de hoje traz a visita de Jesus a Nazaré e a
apresentação do seu programa ao povo na sinagoga. Num primeiro momento, o povo ficou admirado. Mas, em
seguida, quando perceberam que Jesus queria acolher a todos, sem excluir
ninguém, ficaram revoltados e quiseram matá-lo.
* Lucas 4,16-19: A proposta de Jesus.
Animado pelo
Espírito Santo, Jesus tinha voltado para a Galiléia (Lc 4,14) e começou a
anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando pelas comunidades e ensinando nas
sinagogas, ele chegou em Nazaré, onde tinha sido criado. Estava de volta na
comunidade, onde, desde pequeno, tinha participado durante quase trinta anos.
No sábado seguinte, conforme o seu costume, Jesus foi à sinagoga para
participar da celebração e levantou-se para fazer a leitura. Escolheu o texto
de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 61,1-2). Este
texto refletia a situação do povo da Galiléia do tempo de Jesus. A experiência
que Jesus tinha de Deus como Pai amoroso dava a ele um novo olhar para avaliar
a realidade. Em nome de Deus, Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo
e, com as palavras de Isaías, define a sua missão: (1) anunciar a Boa Nova aos
pobres, (2) proclamar a libertação aos presos, (3) a recuperação da vista aos
cegos, (4) restituir a liberdade aos oprimidos e, retomando a antiga tradição
dos profetas, (5) proclama “um ano de graça da parte do Senhor”. Proclama o ano
do jubileu!
* Na
Bíblia, o “Ano Jubileu” era uma lei importante. Inicialmente, a cada sete anos
(Dt 15,1; Lev 25,3), as terras deviam voltar ao clã de origem. Cada um devia
poder voltar à sua propriedade. Assim impediam a formação de latifúndio e
garantiam às famílias a sobrevivência. Também deviam perdoar as dívidas e
resgatar as pessoas escravizadas (Dt 15,1-18). Não foi fácil realizar o ano
jubileu cada sete anos (cf Jr 34,8-16). Depois do exílio, decidiram realizá-lo
cada sete vezes sete anos (Lev 25,8-12), isto é, cada cinqüenta anos. O
objetivo do Ano Jubileu era e continua sendo: restabelecer os direitos dos
pobres, acolher os excluídos e reintegrá-los na convivência. O jubileu era um
instrumento legal para voltar ao sentido original da Lei de Deus. Era uma
oportunidade oferecida por Deus para fazer uma revisão da caminhada, descobrir
e corrigir os erros e recomeçar tudo de novo. Jesus inicia a sua pregação
proclamando um jubileu, um “Ano de Graça da parte do Senhor”.
* Lucas 4,20-22: Ligar Bíblia com Vida.
Terminada a
leitura, Jesus atualiza o texto de Isaías dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de ouvir!" Assumindo as
palavras de Isaías como suas próprias palavras, Jesus lhes dá o seu pleno e
definitivo sentido e se declara messias que veio realizar a profecia. Esta
maneira de atualizar o texto provocou uma reação de descrédito por parte dos
que estavam na sinagoga. Ficaram escandalizados e já não queriam saber dele.
Não aceitaram Jesus como o messias anunciado por Isaías. Diziam: “Não é este o filho de José?” Ficaram
escandalizados porque Jesus falou em acolher os pobres, os cegos e os
oprimidos. O povo de Nazaré não aceitou a proposta de Jesus. E assim, no
momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, ele mesmo foi
excluído.
* Lucas 4,23-30: Ultrapassar os limites da raça.
Para ajudar a
comunidade a superar o escândalo e levá-la a compreender que sua proposta estava
bem dentro da tradição, Jesus contou duas histórias conhecidas da Bíblia, uma
de Elias e outra de Eliseu. As duas histórias criticavam o fechamento do povo
de Nazaré. Elias foi enviado para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs
17,7-16). Eliseu foi enviado para atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14).
Transparece aqui a preocupação de Lucas em mostrar que a abertura para os
pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as
comunidades estavam tendo no tempo de Lucas. Mas o apelo de Jesus não adiantou.
Ao contrário! As histórias de Elias e Eliseu provocaram mais raiva ainda. A
comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer matar Jesus. Mas ele manteve a
calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra
assim como é difícil superar a mentalidade do privilégio e do fechamento.
* É
importante notar os detalhes no uso do Antigo Testamento. Jesus cita o texto de
Isaías até onde diz: "proclamar um
ano de graça da parte do Senhor". Cortou o resto da frase que dizia:
"e um dia de vingança do nosso Deus".
O povo de Nazaré ficou bravo com Jesus por ele pretender ser o messias, por
querer acolher os excluídos e por ter omitido a frase sobre a vingança. Eles
queriam que o Dia de Javé fosse um dia de vingança contra os opressores do
povo. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma
mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de pensar, não
aceita a vingança (cf.Mt 5,44-48). A sua nova experiência de Deus como Pai/Mãe
ajudava-o a entender melhor o sentido das profecias.
4) Para um confronto pessoal
1) O programa de Jesus consiste em acolher os
excluídos. Será que nós acolhemos a todos, ou excluímos alguém? Quais os
motivos que nos levam a excluir certas pessoas?
2) Será que o programa de Jesus está sendo realmente o
nosso programa, o meu programa? Quais os excluídos que deveríamos acolher
melhor na nossa comunidade? O que ou quem nos dá força para realizar a missão
que Jesus nos deu?
5) Oração final
Ah, quanto amo, Senhor, a vossa lei!
Durante o dia todo eu a medito.
Mais sábio que meus inimigos me fizeram os vossos
mandamentos,
pois eles me acompanham sempre (Sl
118,1-2)
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