REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 20ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, que preparastes para
quem vos ama
bens que nossos olhos não
podem ver;
acendei em nossos corações a
chama da caridade
para que, amando-vos em tudo
e acima de tudo,
corramos ao encontro das
vossas promessas que superam todo desejo.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 19,16-22)
16Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou:
Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: 17Por
que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se
queres entrar na vida, observa os mandamentos. 18Quais?, perguntou
ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não
dirás falso testemunho, 19honra teu pai e tua mãe, amarás teu
próximo como a ti mesmo. 20Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo
isto desde a minha infância. Que me falta ainda? 21Respondeu Jesus:
Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um
tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! 22Quando ouviu esta palavra, o jovem foi embora cheio de
tristeza, pois possuía muitos bens.
3) Reflexão Mateus
19,16-22
O evangelho de
hoje traz a história do jovem que perguntou pelo caminho da vida eterna. Jesus
indicou para ele o caminho da pobreza. O jovem não aceitou a proposta de Jesus,
pois era muito rico. Uma pessoa rica é protegida pela segurança que a riqueza
lhe dá. Ela tem dificuldade em abrir mão da sua segurança. Agarrada às
vantagens dos seus bens, vive preocupada em defender seus próprios interesses.
Uma pessoa pobre não tem esta preocupação. Mas há pobres com cabeça de rico.
Muitas vezes, o desejo de riqueza cria neles uma grande dependência e faz o
pobre ser escravo do consumismo, pois ele fica devendo prestações em todo
canto. Já não tem mais tempo para dedicar-se ao serviço do próximo.
* Mateus
19,16-19: Os mandamentos e a vida eterna.
Alguém chega perto de Jesus e pergunta: "Mestre, que devo fazer de bom para possuir a
vida eterna?" Alguns manuscritos informam que se tratava de um
jovem. Jesus responde bruscamente: "Por que você
me pergunta sobre o que é bom? Um só é o bom!” Em seguida, ele
responde à pergunta e diz: “Se você quer entrar para a vida, guarde os
mandamentos". O jovem reage e pergunta: “Quais mandamentos?”
Jesus tem a bondade de enumerar os mandamentos que o rapaz já devia
conhecer: "Não mate; não cometa
adultério; não roube; não levante falso testemunho; honre seu pai e sua mãe; e
ame seu próximo como a si mesmo". É muito significativa a resposta de Jesus. O jovem tinha
perguntado pela vida eterna. Queria a vida junto de Deus! Mas Jesus só lembrou os mandamentos que dizem
respeito à vida junto do próximo! Não
mencionou os três primeiros mandamentos que definem nosso relacionamento com
Deus! Para Jesus, só conseguiremos estar bem com Deus, se soubermos estar bem
com o próximo. Não adianta se enganar. A porta para chegar até Deus é o
próximo.
Em Marcos a
pergunta do jovem é diferente: "Bom
Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?" Jesus respondeu: "Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais!”
(Mc 10,17-18). Jesus desvia a atenção de si mesmo para Deus, pois o que importa é fazer
a vontade do Deus, revelar o Projeto do Pai.
* Mateus
19,20: Observar os mandamentos, para que serve?
O jovem respondeu: "Tenho observado todas essas coisas. O que é que ainda me falta
fazer?" O curioso é o seguinte. O jovem queria conhecer o caminho que o levasse
à vida eterna. Ora, o caminho da vida eterna era e continua sendo: fazer a
vontade de Deus, expressa nos mandamentos.
Com outras palavras, o jovem observava os mandamentos sem saber para que
serviam! Se o soubesse, não teria feito a pergunta. É como muitos católicos que
não sabem por que motivo são católicos. ”Nasci católico, por isso sou
católico!” Coisa de costume!
* Mateus
19,21-22: A proposta de Jesus e a resposta do jovem
Jesus respondeu: "Se você quer ser perfeito, vá, venda
tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois
venha, e siga-me". Quando ouviu
isso, o jovem foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. A observância
dos mandamentos é apenas o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e
mais alto. Jesus pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para
ela poder chegar à doação total de si em favor do próximo. Marcos diz que Jesus
olhou para o jovem com amor (Mc 10,21). Jesus pede muito, mas ele o pede com
muito amor. O moço não aceitou a proposta de Jesus e foi embora, “pois era
muito rico”.
* Jesus e a opção
pelos pobres.
Um duplo cativeiro
marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de
Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem
organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial,
mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a
família, a comunidade, estava sendo desintegrada e uma grande parte do povo
vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade.
Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam refazer a vida em
comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade
de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a
atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra “fariseu” quer
dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro.
Alguns fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio
de pecado (Jo 9,34). Não aprendiam nada do povo (Jo 9,34). Jesus e a sua
comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas,
consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16;
1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt
11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres
(Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como
pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc
9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus,
ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres como propôs ao jovem
rico! (Mc 10,21) Esta maneira diferente de acolher os pobres e de conviver com
eles era uma amostra do Reino de Deus.
4) Para um confronto pessoal
1. Uma pessoa que vive preocupada com a sua riqueza
ou com a aquisição dos bens que a propaganda do consumismo lhe oferece, será
que ela pode libertar-se de tudo isto para seguir Jesus e viver em paz numa
comunidade cristã? É possível? O que você acha?
2. O que significa para nós hoje: “Vai
vende tudo, dá aos pobres”? É possível
tomar isto ao pé da letra? Conhece alguém que conseguiu largar tudo por causa
do Reino?
5) Oração final
Ele me faz descansar em verdes prados,
a águas tranqüilas me conduz.
Restaura minhas forças,
guia-me pelo caminho certo,
por amor do seu
nome. (Sl 22, 2-3)
Nenhum comentário:
Postar um comentário