REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 20ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, que preparastes para quem
vos ama
bens que nossos olhos não
podem ver;
acendei em nossos corações a
chama da caridade
para que, amando-vos em tudo
e acima de tudo,
corramos ao encontro das
vossas promessas que superam todo desejo.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 22,1-14)
1Jesus
tornou a falar-lhes por meio de parábolas: 2O Reino dos céus é
comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho. 3Enviou seus
servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir. 4Enviou
outros ainda, dizendo-lhes: Dizei aos convidados que já está preparado o meu
banquete; meus bois e meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado.
Vinde às bodas! 5Mas, sem se importarem com aquele convite,
foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio. 6Outros lançaram
mãos de seus servos, insultaram-nos e os mataram. 7O rei soube e
indignou-se em extremo. Enviou suas tropas, matou aqueles assassinos e
incendiou-lhes a cidade. 8Disse depois a seus servos: O festim está
pronto, mas os convidados não foram dignos. 9Ide às encruzilhadas e
convidai para as bodas todos quantos achardes. 10Espalharam-se eles
pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a
sala do banquete ficou repleta de convidados. 11O rei entrou para
vê-los e viu ali um homem que não trazia a veste nupcial. 12Perguntou-lhe:
Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste nupcial? O homem não proferiu
palavra alguma. 13Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e
as mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes. 14Porque
muitos são os chamados, e poucos os escolhidos.
3) Reflexão Mateus 22,1-14
* O evangelho de hoje traz a parábola do banquete que se
encontra em Mateus e em Lucas, mas com diferenças significativas, provenientes
da perspectiva de cada evangelista. O pano de fundo, porém, que levou os dois
evangelistas a conservar esta parábola é o mesmo. Na comunidades dos primeiros
cristãos, tanto de Mateus como de Lucas, continuava bem vivo o problema da
convivência entre judeus convertidos e pagãos convertidos. Os judeus tinham
normas antigas que os impediam de comer com os pagãos. Mesmo depois de terem
entrado na comunidade cristã, muitos judeus mantinham o costume antigo de não
sentar à mesma mesa com um pagão. Assim, Pedro teve conflitos na comunidade de
Jerusalém, por ter entrado na casa de Cornélio, um pagão, e ter comido com ele
(At 11,3). Este mesmo problema, porém, era vivido de maneira diferente nas
comunidades de Lucas e nas de Mateus. Nas comunidades de Lucas, apesar das
diferenças de raça, classe e gênero, eles tinham um grande ideal de partilha e
de comunhão (At 2,42; 4,32; 5,12). Por isso, no evangelho de Lucas (Lc 14,15-24),
a parábola insiste no convite feito a todos. O dono da festa, indignado com a
desistência dos primeiros convidados, mandou chamar os pobres, os aleijados, os
cegos, os mancos para virem participar do banquete. Mesmo assim sobrava lugar.
Então, o dono da festa mandou convidar todo mundo, até que a casa ficasse
cheia. No evangelho de Mateus, a primeira parte da parábola (Mt 22,1-10) tem o
mesmo objetivo de Lucas. Ele chega a dizer que o dono da festa mandou entrar “bons e maus” (Mt 22,10). Mas no fim ele
acrescenta uma outra parábola (Mt 22,11-14) sobre o traje de festa, que insiste
no que é específico dos judeus, a saber, a necessidade da pureza para poder
comparecer diante de Deus.
* Mateus 22,1-2: O convite para todos
* Mateus 22,1-2: O convite para todos
Alguns
manuscritos dizem que a parábola foi contada para os chefes dos
sacerdotes e aos anciãos do povo. Esta afirmação pode até servir como chave de leitura, pois
ajuda a compreender alguns pontos estranhos que aparecem na história que Jesus
conta. A parábola começa assim: "O
Reino do Céu é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Esta
afirmação inicial evoca a esperança mais profunda: o desejo do povo de estar
com Deus para sempre. Várias vezes nos evangelhos se alude a esta esperança,
sugerindo que Jesus, o filho do Rei, é o noivo que veio preparar o casamento
(Mc 2,19; Apc 21,2; 19,9).
* Mateus 22,3-6: Os convidados não quiseram vir
O rei fez dois convites muita insistentes, mas os
convidados não quiseram vir. “Um foi para
o seu campo, outro foi fazer os seus negócios, e outros agarraram os
empregados, bateram neles, e os mataram”.
Em Lucas são os deveres da vida cotidiana que impedem os convidados
de aceitar o convite. O primeiro diz: “Comprei um terreno. Preciso vê-lo!” O
segundo: “Comprei cinco juntas de bois! Vou experimentá-las!” O terceiro:
“Casei. Não posso ir!” (cf. Lc 14,18-20). Dentro das normas e costumes da
época, aquelas pessoas tinham o direito e até o dever de recusar o convite que
lhes foi feito (cf Dt 20,5-7).
* Mateus 22,7: Uma guerra incompreensível
A reação do rei diante da recusa surpreende. “Indignado, o rei mandou suas tropas, que
mataram aqueles assassinos, e puseram fogo na cidade deles. Como entender
esta reação tão violenta? A parábola foi contada para os chefes dos
sacerdotes e aos anciãos do povo
(Mt 22,1), os responsáveis pelos da
nação. Muitas vezes, Jesus tinha falado a eles sobre a necessidade da
conversão. Ele chegou a chorar sobre a cidade de Jerusalém e dizer: "Se também você compreendesse hoje o
caminho da paz! Agora, porém, isso está escondido aos seus olhos! Vão chegar
dias em que os inimigos farão trincheiras contra você, a cercarão e apertarão
de todos os lados. Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você
pedra sobre pedra. Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para
visitá-la." (Lc 14,41-44). A reação violoenta do rei na parábola
refere-se provavelmente ao que aconteceu de fato de acordo com a previsão de
Jesus. Quarenta anos depois, Jerusalém foi destruída (Lc 19,41-44; 21,6;).
* Mateus 22,8-10: O convite permanece de pé
Pela terceira vez, o rei convida o povo. Ele disse aos
empregados: “A festa de casamento está
pronta, mas os convidados não a mereceram. Portanto, vão até as encruzilhadas
dos caminhos, e convidem para a festa todos os que vocês encontrarem. Então os
empregados saíram pelos caminhos, e reuniram todos os que encontraram, maus e
bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados“. Os maus que eram
excluídos como impuros da participação no culto dos judeus, agora são convidados,
especificamente, pelo rei para participar da festa. No contexto da época, os
maus eram os pagãos. Eles também são convidados para participar da festa de
casamento.
* Mateus 22,11-14: O
traje de festa
Estes versos contam como o rei entrou na sala da festa
e viu alguém sem o traje da festa. O rei perguntou: 'Amigo, como foi que você entrou aqui sem o traje de festa?' Mas o
homem nada respondeu. A
história conta que o homem foi amarrado e jogado fora na escuridão. E conclui: “Muitos são chamados, e poucos são
escolhidos”. Alguns estudiosos
acham que aqui se trata de uma segunda parábola que foi acrescentada para
abrandar a impressão que ficou da primeira parábola onde se disse que “maus e bons” entraram para a festa (Mt
22,10). Mesmo admitindo que já não é a observância da lei que nos traz a
salvação, mas sim a fé no amor gratuito de Deus, isto em nada diminui a
necessidade da pureza do coração como condição para poder comparecer diante de
Deus.
4) Para um confronto pessoal
1. Quais as pessoas que normalmente são convidadas para as nossas festas? Por que? Quais as pessoas que não são convidadas para as nossas festas? Por que?
2. Quais os motivos que hoje limitam a participação de muitas pessoas na sociedade e na igreja? Quais os motivos que certas pessoas alegam para se excluir do dever de participar na comunidade? Será que são motivos justos?
1. Quais as pessoas que normalmente são convidadas para as nossas festas? Por que? Quais as pessoas que não são convidadas para as nossas festas? Por que?
2. Quais os motivos que hoje limitam a participação de muitas pessoas na sociedade e na igreja? Quais os motivos que certas pessoas alegam para se excluir do dever de participar na comunidade? Será que são motivos justos?
5) Oração final
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro,
e renovai-me o espírito de firmeza.
De vossa face não me rejeiteis,
e nem me priveis de vosso santo Espírito. (Sl
50, 12-13)
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