REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 19ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso,
a quem ousamos chamar de
Pai,
dai-nos cada vez mais um
coração de filhos
para alcançarmos um dia a
herança que prometestes.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,21-19,1)
18:21Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo
perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? 22Respondeu
Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por
isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus
servos. 24Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe
devia dez mil talentos. 25Como ele não tinha com que pagar, seu
senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus
bens para pagar a dívida. 26Este servo, então, prostrou-se por terra
diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! 27Cheio
de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 28Apenas
saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem
denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: Paga o que me
deves! 29O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu
te pagarei! 30Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na
prisão, até que tivesse pago sua dívida. 31Vendo isto, os outros
servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha
passado. 32Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te
perdoei toda a dívida porque me suplicaste. 33Não devias também tu
compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? 34E
o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua
dívida. 35Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não
perdoar a seu irmão, de todo seu coração. 19:1Após esses discursos,
Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão.
3) Reflexão Mateus
18,21-19,1
* No
evangelho de ontem ouvimos as palavras de Jesus sobre a correção fraterna (Mt
18,15-20). No evangelho de hoje (Mt 18,21-39) o assunto central é o perdão e a
reconciliação.
* Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!.
Diante das
palavras de Jesus sobre a correção fraterna e a reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?”
Sete é um número que indica uma perfeição e, no caso da proposta de Pedro, sete
é sinônimo de sempre. Mas Jesus vai mais longe. Ele elimina todo e qualquer
possível limite para o perdão: "Não
te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” É como se dissesse: “Sempre, não! Pedro, mas setenta vezes
sempre!” Pois não há proporção entre o amor de Deus para conosco e o nosso
amor para com o irmão. Aqui se evoca o episódio de Lamec do AT. “Lamec disse para as suas mulheres: Ada e
Sela, ouçam minha voz; mulheres de Lamec, escutem minha palavra: Por uma
ferida, eu matarei um homem, e por uma cicatriz matarei um jovem. Se a vingança
de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e sete" (Gn
4,23-24). A tarefa das comunidades é a de reverter o processo da espiral da
violência. Para esclarecer a sua resposta a Pedro Jesus conta a parábola do
perdão sem limite.
* Mateus 18,23-27: A atitude do patrão
Esta parábola é
uma alegoria, isto é, Jesus fala de um patrão, mas pensa em Deus. Isto explica
os contrastes enormes desta parábola. Como veremos, apesar de se tratar de
coisas normais diárias, existe algo nesta história que não acontece nunca na
vida diária. Na história que Jesus conta, o patrão segue as normas do direito
da época. Era um direito dele de prender o empregado com toda a sua família e
mantê-lo na prisão até que tivesse pago pelo trabalho escravo a sua dívida. Mas
diante do pedido do empregado endividado, o patrão perdoa a dívida. O que chama
a atenção é o tamanho da dívida: dez mil talentos. Um talento equivale a 35 kg
de ouro. Segundo os cálculos feitos, dez mil talentos equivalem a 350 toneladas
de ouro. Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fossem trabalhar a vida
inteira, jamais seriam capazes de juntar 350 toneladas de ouro. O cálculo
extremo é proposital. Nossa dívida frente a Deus é incalculável e impagável.
* Mateus 18,28-31: A atitude do empregado
Ao sair daí, esse empregado perdoado
encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem moedas de prata. Ele o
agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo: 'Pague logo o que me deve'. Dívida
de cem denários é o salário de cem dias de trabalho. Alguns calculam que era de
30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois! Nem dá para
entender a atitude do empregado: o patrão lhe perdoou 350 toneladas de outro e
ele não quer perdoar 30 gramas de ouro. Em vez de perdoar, ele faz com o
companheiro aquilo que o patrão ia fazer, mas não fez. Mandou prender o companheiro
de acordo com as normas da lei, até que fosse paga a dívida. Atitude chocante
para qualquer ser humano. Chocou os outros companheiros. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito
tristes, procuraram o patrão, e lhe contaram tudo. Qualquer um de nós teria
tido a mesma atitude de desaprovação.
* Mateus 18,32-35: A atitude de Deus
“O patrão mandou chamar o empregado, e lhe
disse: 'Empregado miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me
suplicou. E você, não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu
tive de você?' O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos
torturadores, até que pagasse toda a sua dívida”. Diante do amor de Deus
que perdoa gratuitamente nossa dívida de 350 toneladas de ouro, é nada mais que
justo que nós perdoemos ao irmão a pequena dívida de 30 gramas de ouro. O
perdão de Deus é sem limites. O único limite para a gratuidade da misericórdia
de Deus vem de nós mesmos, da nossa incapacidade de perdoar o irmão! (Mt
18,34). É o que dizemos e pedimos no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido” (Mt 6,12-15).
A
comunidade como espaço alternativo de solidariedade e fraternidade
A sociedade do
Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes
buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram
exigentes e não ofereciam um lugar para eles. Nas comunidades cristãs, o rigor
de alguns na observância da Lei levava para dentro da convivência os mesmos
critérios da sociedade e da sinagoga. Assim, nas comunidades começavam a
aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade e na sinagoga entre rico
e pobre, dominação e submissão, homem e mulher, raça e religião. Em vez da
comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação.
Juntando palavras de Jesus, Mateus quer iluminar a caminhada dos seguidores e
das seguidoras de Jesus, para que as comunidades sejam um espaço alternativo de
solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma Boa Notícia para os pobres.
4) Para um confronto pessoal
1) Perdoar. Tem gente que diz: “Perdôo, mas não esqueço!” E eu? Sou capaz de imitar a Deus?
2) Jesus deu o exemplo. Na hora de ser morto pediu
perdão para os seus assassinos (Lc 23,34). Será que sou capaz de imitar Jesus?
5) Oração final
Desde o nascer ao pôr-do-sol,
seja louvado o nome do Senhor.
O Senhor é excelso sobre todos os povos,
sua glória ultrapassa a altura dos céus. (Sl
112,3-4)
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