REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 18ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Manifestai, ó Deus, vossa inesgotável
bondade
para com os vosso filhos que
vos imploram
e se gloriam de vos ter como
criador e guia,
restaurando para eles a
vossa criação, e conservando-a renovada.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 16,13-23)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo,
segundo Mateus - 13Chegando ao território de Cesaréia de Filipe,
Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? 14Responderam:
Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos
profetas. 15Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? 16Simão
Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! 17Jesus então
lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue
que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18E eu te
declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas
do inferno não prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do
Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus. 20Depois, ordenou aos
seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. 21Desde
então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a
Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e
dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia. 22Pedro
então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita
isto, Senhor! Isto não te acontecerá! 23Mas Jesus, voltando-se para
ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus
pensamentos não são de Deus, mas dos homens!
3) Reflexão Mateus
16,13-23
* Estamos na parte narrativa entre o Sermão das Parábolas (Mt
13) e o Sermão da Comunidade (Mt 18). Nestas partes narrativas que ligam entre
si os cinco Sermões, Mateus costuma seguir a sequência do Evangelho de Marcos.
De vez em quando, ele cita outras informações, também conhecidas por Lucas. E
aqui e acolá, ele traz textos que só aparecem no evangelho de Mateus, como é o
caso da conversa entre Jesus e Pedro do evangelho de hoje. Este texto recebe
interpretações diversas e até opostas nas várias igrejas cristãs.
* Naquele tempo, as comunidades cultivavam uma ligação afetiva
muito forte com as lideranças que tinham dado origem à comunidade. Por exemplo,
as comunidades de Antioquia na Síria cultivavam a sua ligação com a pessoa de
Pedro. As da Grécia, com a pessoa de Paulo. Algumas comunidades da Ásia, com a
pessoa do Discípulo Amado e outras com a pessoa de João do Apocalipse. Uma
identificação com estes líderes da sua origem ajudava as comunidades a cultivar
melhor a sua identidade e espiritualidade. Mas também podia ser motivo de
briga, como no caso da comunidade de Corinto (1 Cor 1,11-12).
* Mateus 16,13-16: As
opiniões do povo e dos discípulos a respeito de Jesus.
Jesus faz um
levantamento da opinião do povo a respeito da sua pessoa, o Filho do Homem. As
respostas são variadas: João Batista, Elias, Jeremias, algum dos profetas.
Quando Jesus pergunta pela opinião dos discípulos, Pedro se torna porta-voz e
diz: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo!” A resposta não é nova. Anteriormente, os discípulos já tinham dito a
mesma coisa (Mt 14,33). No Evangelho de João, a mesma profissão de fé é feita
por Marta (Jo 11,27). Ela significa que em Jesus se realizam as profecias do
Antigo Testamento.
* Mateus
16,17: A resposta de Jesus a Pedro: "Feliz você, Pedro!"
Jesus proclama
Pedro “Feliz!”, porque recebeu uma revelação do Pai. Aqui também a resposta de
Jesus não é nova. Anteriormente, Jesus tinha louvado o Pai por ele ter revelado
o Filho aos pequenos e não aos sábios (Mt 11,25-27) e tinha feito a mesma
proclamação de felicidade aos discípulos por estarem vendo e ouvindo coisas
novas que, antes deles, ninguém conhecia nem tinha ouvido falar (Mt 13,16).
* Mateus
16,18-20: As atribuições de Pedro: Ser pedra e tomar conta das chaves do Reino.
1. Ser
Pedra: Pedro deve ser pedra, isto é, deve ser fundamento
firme para a igreja a ponto de ela poder resistir contra as portas do inferno.
Com estas palavras de Jesus a Pedro, Mateus anima as comunidades perseguidas da
Síria e da Palestina que viam em Pedro a liderança marcante da sua origem.
Apesar de fraca e perseguida, a comunidade tem fundamento firme, garantido pela
palavra de Jesus. A função de ser pedra como fundamento da fé evoca a palavra
de Deus ao povo no exílio: “Vocês que
buscam a Deus e procuram a justiça, olhem para a rocha (pedra) de onde foram
talhados, olhem para a pedreira de onde foram extraídos. Olhem para Abraão seu
pai e para Sara sua mãe. Quando os chamei, eles eram um só, mas se
multiplicaram por causa da minha bênção”. (Is 51,1-2). Indica que em Pedro
existe um novo começo do povo de Deus.
2. As
chaves do Reino: Pedro recebe as chaves do Reino. O mesmo poder de ligar e
desligar é dado também às comunidades (Mt 18,18) e aos outros discípulos (Jo
20,23). Um dos pontos em que o evangelho de Mateus mais insiste é a
reconciliação e o perdão. É uma das tarefas mais importantes dos coordenadores
e coordenadoras das comunidades. Imitando Pedro, devem ligar e desligar, isto
é, fazer com que haja reconciliação, aceitação mútua, construção da
fraternidade, até setenta vezes sete (Mt 18,22).
* Mateus
16,21-22: Jesus completa o que faltava na resposta de Pedro, e este reage.
Jesus
começou a dizer: “que devia ir a
Jerusalém, e sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos
doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”.
Dizendo que devia ir e devia ser morto, ou que era necessário sofrer, ele indicava que o
sofrimento estava previsto nas profecias. O caminho do Messias não é só de
triunfe de glória, também de sofrimento e de cruz! Se Pedro aceita Jesus como
Messias e Filho de Deus, deverá aceitá-lo também como o Messias Servo que vai
ser morto. Mas Pedro não aceita a correção de Jesus e procura dissuadi-lo. Levou Jesus para um lado, e o repreendeu,
dizendo: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!".
* Mateus
16,23: A resposta de Jesus a Pedro: pedra de tropeço
A resposta de
Jesus é surpreendente. Pedro queria orientar Jesus tomando a dianteira. Jesus
reage: "Sai daqui para atrás de mim.
Você é satanás e uma pedra de tropeço para mim. Você não pensa as coisas de
Deus, mas as coisas dos homens!"
Pedro deve seguir Jesus, e não o contrário. É Jesus que dá a direção.
Satanás é aquele que desvia a pessoa do caminho traçado por Deus. Novamente,
aparece a expressão pedra, mas agora em sentido oposto. Pedro, ora é pedra de
apoio, ora é pedra de tropeço! Assim eram as comunidades da época de Mateus,
marcadas pela ambiguidade. Assim, somos todos nós e assim é, no dizer de João
Paulo II, é o próprio papado, marcado pela mesma ambiguidade de Pedro: pedra de
apoio na fé e pedra de tropeço na fé.
4) Para um confronto pessoal
1. Quais as opiniões que na nossa comunidade existem
sobre Jesus? Estas diferenças na maneira de viver e expressar a fé enriquecem a
comunidade ou prejudicam a caminhada?
2. Que tipo de pedra é a nossa comunidade? Qual a missão que resulta disso para
nós?
5) Oração final
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro,
e renovai-me o espírito de firmeza.
De vossa face não me rejeiteis,
e nem me priveis de vosso santo Espírito. (Sl
50,12-13)
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