REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 14ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, que pela humilhação do
vosso Filho
reerguestes o mundo decaído,
enchei os vossos filhos e
filhas de santa alegria,
e dai aos que libertastes da
escravidão do pecado
o gozo das alegrias eternas.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 9, 32-38)
Naquele tempo, 32apresentaram a Jesus um homem mudo, que
estava possuído pelo demônio. 33O demônio foi expulso, o mudo falou
e a multidão exclamava com admiração: Jamais se viu algo semelhante em Israel. 34Os
fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os
demônios. 35Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas
sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade. 36Vendo
a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estava enfraquecida e abatida
como ovelhas sem pastor. 37Disse, então, aos seus discípulos: A messe
é grande, mas os operários são poucos. 38Pedi, pois, ao Senhor da
messe que envie operários para sua messe.
3) Reflexão Mateus 9,32-38
* O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) a cura de um endemoninhado
mudo (Mt 9,32-34) e (2) um resumo das atividades de Jesus (Mt 9,35-38). Estes
dois episódios encerram a parte narrativa dos capítulos 8 e 9 do evangelho de
Mateus na qual o evangelista procura mostrar como Jesus praticava os
ensinamentos dados no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7). No capítulo 10, cuja
meditação começa no evangelho de amanhã, veremos o segundo grande discurso de
Jesus: o Sermão da Missão (Mt 10,1-42).
* Mateus 9,32-33a: A
cura de um mudo.
Num
único versículo, Mateus descreve como trouxeram um endemoninhado mudo até
Jesus, como Jesus expulsou o demônio e como o mudo começou a falar de novo. O
que impressiona na atitude de Jesus, aqui e em todos os quatro evangelhos, é o
cuidado e o carinho com as pessoas doentes. As doenças eram muitas, e a
previdência social, inexistente. As doenças não eram só as deficiências
corporais: mudez, surdez, paralisia, lepra, cegueira e tantos outros males. No
fundo, estas doenças eram apenas a manifestação de um mal muito mais amplo e
mais profundo que arruinava a saúde do povo, a saber, o total abandono e o
estado deprimente e desumano em que ele era obrigado a viver. As atividades e
as curas de Jesus se dirigiam não só contra as deficiências corporais, mas
também e sobretudo contra esse mal maior do abandono material e espiritual em
que o povo era condenado a passar os poucos anos da sua vida. Pois, além da
exploração econômica que roubava a metade do orçamento familiar, a religião
oficial da época, em vez de ajudar o povo a encontrar em Deus uma força para
resistir e ter esperança, ensinava que as doenças eram castigo de Deus pelo
pecado. Aumentava nele o sentimento de exclusão e de condenação. Jesus fazia o
contrário. O acolhimento cheio de ternura e a cura dos enfermos faziam parte do
esforço mais amplo para refazer o relacionamento humano entre as pessoas e
restabelecer a convivência comunitária e fraterna nos povoados e aldeias da
Galiléia, sua terra.
* Mateus 9,33b-34: A
dupla interpretação da cura do mudo
Diante
da cura do endemoninhado mudo, a reação do povo é de admiração e de gratidão: “Nunca se viu coisa semelhante em Israel!”
A reação dos fariseus é de desconfiança e de malícia: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulse os demônios!” Não
podendo negar os fatos que provocam a admiração do povo, a única maneira que os
fariseus encontravam para neutralizar a influência de Jesus junto ao povo era
atribuir a expulsão ao poder maligno. Marcos traz uma longa argumentação de
Jesus para mostrar a malícia e a falta de coerência da interpretação dos fariseus
(Mc 3,22-27). Mateus não traz nenhuma resposta de Jesus à interpretação dos
fariseus, pois quando a malícia é evidente, a verdade brilha por si mesma.
* Mateus 9,35: Incansável, Jesus percorre os povoados
É
bonita a descrição da atividade incansável de Jesus, na qual transparece a
dupla preocupação a que aludimos: o acolhimento cheio de ternura e a cura dos
enfermos: “Jesus percorria todas as
cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do
Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade”. Nos capítulos
anteriores, Mateus já tinha aludido várias vezes a esta atividade ambulante de
Jesus pelos povoados Galiléia (Mt 4,23-24; 8,16).
* Mateus 9,36: A compaixão de Jesus.
“Vendo as multidões, Jesus teve compaixão,
porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Os
que deviam ser os pastores não eram pastores, não cuidavam do rebanho. Jesus
procura ser o pastor (Jo 10,11-14). Mateus vê aqui a realização da profecia do
Servo de Javé que “levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças” (Mt 8,17
e Is 53,4). Como Jesus, a grande preocupação do Servo era “encontrar uma palavra de conforto para quem estava desanimado” (Is
50,4). A mesma compaixão para com o povo abandonado, Jesus a mostrou por
ocasião da multiplicação dos pães: são como
ovelhas sem pastor (Mt 15,32). O evangelho de Mateus tem uma preocupação
constante em revelar aos judeus convertidas das comunidades da Galiléia e da
Síria que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas. Por isso, frequentemente,
ele mostra como nas atividades de Jesus se realizam as profecias (cf. Mt 1,23;
2,5.15.17.23; 3,3; 4,14-16; etc).
* Mateus 9,37-38: A messe é grande e os operários são poucos
Jesus
transmite aos discípulos a preocupação e a compaixão que o animam por dentro: "A colheita é grande, mas os
trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande
trabalhadores para a colheita".
4) Para um confronto pessoal
1) Compaixão diante das multidões
cansadas e famintas. Na história da humanidade, nunca houve tanta gente cansada
e faminta como hoje. A TV divulga os fatos, mas não oferece resposta. Será que
nós cristãos conseguimos ter em nós a mesma compaixão de Jesus e irradiá-la aos
outros?
2) A bondade de Jesus para com os
pobres incomodava os fariseus. Estes recorrem à malícia para desfazer e
neutralizar o incômodo que Jesus causava. Existem muitas atitudes boas nas
pessoas que me incomodam? Como eu as interpreto: com admiração agradecida como
o povo ou com malícia como os fariseus?
5) Oração final
Celebrai o Senhor, aclamai o
seu nome,
apregoai entre as nações as
suas obras.
Cantai-lhe hinos e cânticos,
anunciai todas as suas
maravilhas.
Gloriai-vos do seu santo
nome;
rejubile o coração dos que
procuram o Senhor. (Sl 104, 1-3)
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