REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 17ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em
vós esperam
e, sem vosso auxílio,
ninguém é forte, ninguém é santo:
redobrai de amor para
convosco,
para que, conduzidos por
vós,
usemos de tal modo os bens
que passam,
que possamos abraçar os que
não passam.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,31-35)
31Em
seguida, propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é comparado a um grão de
mostarda que um homem toma e semeia em seu campo. 32É esta a menor
de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as
hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos. 33Disse-lhes,
por fim, esta outra parábola. O Reino dos céus é comparado ao fermento que uma
mulher toma e mistura em três medidas de farinha e que faz fermentar toda a
massa. 34Tudo isto disse Jesus à multidão em forma de parábola. De
outro modo não lhe falava, 35para que se cumprisse a profecia:
Abrirei a boca para ensinar em parábolas; revelarei coisas ocultas desde a
criação.
3) Reflexão
* Estamos meditando o Sermão das
Parábolas, cujo objetivo é revelar, por meio de comparações, o mistério do
Reino de Deus presente na vida do povo. O evangelho de hoje traz duas pequenas
parábolas, da semente de mostarda e do fermento. Nelas Jesus conta duas
histórias tiradas da vida de cada dia que vão servir como meio de comparação
para ajudar o povo a descobrir o mistério do Reino. Ao meditar estas duas
histórias não se deve logo querer descobrir o que cada elemento das histórias
nos tem a dizer sobre o Reino. Antes disso, se deve olhar, primeiro, a história
em si mesma como um todo e procurar descobrir qual o ponto central em torno do
qual a história foi construída, pois é este ponto central que servirá como meio
de comparação para revelar o Reino de Deus. Vamos ver qual o ponto central das
duas parábolas.
* Mateus
13,31-32: A parábola da semente de mostarda
Jesus diz: "O
Reino do Céu é como uma semente de mostarda“ e, em seguida, ele conta a
história: uma semente bem pequena é lançada no campo; mesmo sendo pequena, ela
cresce, fica maior que as outras plantas e chega a atrair os passarinhos para
fazer nela seus ninhos. Jesus não explica a história. Aqui vale o que ele disse
em outra ocasião: “Quem tem ouvidos para
ouvir ouça!” Ou seja: “É isso. Vocês ouviram e agora
tratem de entender!” Compete a nós descobrir o que esta história nos revela
sobre o Reino de Deus presente em nossas vidas. Assim, por meio desta história
da semente de mostarda Jesus provoca nossa fantasia, pois cada um de nós
entende algo de semente. Jesus espera que as pessoas, nós todos, comecemos a
partilhar o que cada um descobriu. Partilho aqui três pontos que descobri sobre
o Reino a partir desta parábola: (1) Jesus diz: "O Reino do Céu é como uma semente de mostarda“. O Reino não é
algo abstrato, não é uma idéia. É uma presença no meio de nós (Lc 17,21). Como
é esta presença? Ela é como a semente de mostarda: presença bem pequena,
humilde, que quase não se vê. Trata-se do próprio Jesus, um pobre camponês
carpinteiro, andando pela Galiléia, falando do Reino ao povo das aldeias. O Reino
de Deus não segue os critérios dos grandes do mundo. Tem outro modo de pensar e
de proceder. (2) A parábola evoca uma profecia de Ezequiel, onde se diz que
Deus vai pegar um pequeno broto de cedro e plantá-lo nas alturas da montanha de
Israel. Este pequeno broto de cedro ”vai soltar ramos e produzir frutos, e se
transformará num cedro gigante. Os passarinhos farão nele seus ninhos, e os
pássaros se abrigarão à sombra de seus ramos E todas as árvores do campo
saberão que sou eu, Javé, que rebaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa,
seco a árvore verde e faço brotar a árvore seca. Eu, Javé, falo e faço".
(Ez 17,22-23). (3) A semente de mostarda, mesmo sendo pequena, cresce e suscita
esperança. Como a semente de mostarda, assim o Reino tem uma força interior e
cresce. Cresce como? Cresce através da pregação de Jesus e dos discípulos e
discípulas nos povoados da Galiléia. Cresce, até hoje, através do testemunho
das comunidades e se torna uma boa notícia de Deus que irradia e atrai o povo.
A pessoa que chega perto da comunidade, se sente acolhida, em casa, e faz nela
seu ninho, a sua morada. No fim, a parábola deixa uma pergunta no ar: quem são
os passarinhos? A pergunta vai ter resposta mais adiante no evangelho. O texto
sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar no Reino (Mt 15,21-28).
* Mateus
13,33: A parábola do fermento
A história da segunda parábola é esta: uma mulher pega
um pouco de fermento e o mistura com três porções de farinha, até que tudo
fique fermentado. Novamente, Jesus não explica. Só diz: "O Reino do Céu é como o fermento...”. Como na primeira
parábola, fica por nossa conta de descobrir o significado para nós hoje.
Partilho alguns pontos que descobri e me fizeram pensar: (1) O que cresce não é
o fermento, mas sim a massa. (2) Trata-se de uma coisa bem caseira, do trabalho
da mulher em casa. (3) Fermento tem algo de podre que é misturado na massa pura
da farinha. (4) O objetivo é fazer levedar a massa toda e não apenas uma parte.
(5) Fermento não tem finalidade em si mesma, mas serve apenas para fazer
crescer a massa.
* Mateus
13,34-35: Por que Jesus fala em parábolas
Aqui, no fim do Sermão das Parábolas, Mateus traz um
esclarecimento sobre o motivo que levava Jesus a ensinar o povo em forma de
parábolas. Ele diz que era para se cumprir a profecia que dizia: "Abrirei a boca para usar parábolas;
vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo". Na
realidade, o texto citado não é de um profeta, mas de um salmo (Sl 78,2). É que
para os primeiros cristãos todo o Antigo Testamento era uma grande profecia a
anunciar veladamente a vinda do Messias e a realização das promessas de Deus.
Em Marcos 4,34-34, o motivo que levava Jesus a ensinar o povo por meio de
parábolas era para adaptar a mensagem à capacidade do povo. Por serem exemplos
tirados da vida do povo, Jesus ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus
no quotidiano. Tornava a vida transparente. Fazia perceber que o extraordinário
de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo
entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro
dela os sinais de Deus. No fim do Sermão das Parábolas, em Mateus 13,52, como
ainda veremos, vai ser dado outro motivo que levava Jesus a ensinar por meio de
parábolas.
4) Para um confronto
pessoal
1. Qual o ponto destas duas parábolas de que você mais
gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por que?
2. Qual a semente que, sem
você se dar conta, cresceu em você e na sua comunidade?
5) Oração final
Ó vós que sois a minha força,
é para vós que eu me volto.
Porque vós, ó Deus, sois a minha defesa.
Ó meu Deus, vós sois todo
bondade para mim. (Sl 58,
10-11)
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