REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quarta-feira da 16ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, sede generoso para com os
vossos filhos e filhas
e multiplicai em nós os dons
da vossa graça,
para que, repletos de fé,
esperança e caridade,
guardemos fielmente os
vossos mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13, 1-9)
1Naquele
dia, saiu Jesus e sentou-se à beira do lago. 2Acercou-se dele, porém,
uma tal multidão, que precisou entrar numa barca. Nela se assentou, enquanto a
multidão ficava à margem. 3E seus discursos foram uma série de
parábolas. 4Disse ele: Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte
da semente caiu ao longo do caminho; os pássaros vieram e a comeram. 5Outra
parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque
a terra era pouco profunda. 6Logo, porém, que o sol nasceu,
queimou-se, por falta de raízes. 7Outras sementes caíram entre os
espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram. 8Outras, enfim,
caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um. 9Aquele
que tem ouvidos, ouça.
3) Reflexão Mateus
13,1-9
* No capítulo 13 do Evangelho de Mateus
começa o terceiro grande discurso, o Sermão
das Parábolas. Como já dissemos anteriormente no comentário do evangelho do
dia 9 de julho, Mateus organizou o seu evangelho como uma nova edição da Lei de
Deus ou como um novo “Pentateuco” com seus cinco livros. Por isso, o seu
evangelho traz cinco grande discursos ou ensinamentos de Jesus, seguidos por
partes narrativas, nas quais se descreve como Jesus praticava o que tinha
ensinado nos discursos. Eis o esquema:
Introdução: nascimento e preparação do Messias (Mt 1 a 4)
1. Sermão da Montanha: a porta de
entrada no Reino (Mt 5 a 7)
Narrativa Mt 8 e 9
2. Sermão da Missão: como anunciar e
irradiar o Reino (Mt 10)
Narrativa Mt 11 e 12
3.
Sermão das Parábolas: o mistério do Reino presente na vida (Mt 13)
Narrativa Mt 14 a 17
4. Sermão da Comunidade: a nova
maneira de conviver no Reino (Mt 18)
Narrativa 19 a 23
5. Sermão da vinda futura do Reino: a
utopia que sustenta a esperança (Mt 24 e 25)
Conclusão: paixão, morte e ressurreição (Mt 26 a 28).
* No evangelho de hoje vamos meditar
sobre a parábola da semente. Jesus tinha um jeito bem popular de ensinar por
meio de comparações e parábolas. Geralmente, quando terminava de contar uma
parábola, ele não explicava, mas costumava dizer: “Quem tem ouvidos para ouvir
ouça!” (Mt 11,15; 13,9.43). De vez em quando, ele explicava para os discípulos
(Mt 13,36). As parábolas falam das coisas da vida: semente, lâmpada, grão de
mostarda, sal, etc. São coisas que existem na vida de todos, tanto do povo
daquele tempo como de hoje. Deste modo, a experiência que hoje nós temos destas
coisas da vida tornam-se para nós um meio para descobrir a presença do mistério
de Deus em nossas vidas. Falar em Parábolas é revelar o mistério do Reino
presente na vida.
* Mateus
13,1-3: Sentado num barco, Jesus ensina o povo
Como no Sermão da Montanha (Mt 5,1-2), também aqui
Mateus faz uma breve introdução ao Sermão
das Parábolas, descrevendo o jeito de Jesus ensinar o povo na praia,
sentado no barco, e muita gente ao redor para escutar. Jesus não era uma pessoa
estudada (Jo 7,15). Não tinha freqüentado a escola superior de Jerusalém. Vinha
do interior, da roça, de Nazaré. Era um desconhecido, meio camponês, meio
artesão. Sem pedir licença às autoridades religiosas, começou a ensinar o povo.
O povo gostava de ouvi-lo. Jesus ensinava sobretudo através de parábolas. Já
vimos várias: do pescador de homens (Mt 4,19), do sal (Mt 5,13), da lâmpada (Mt
5,15), das aves do céu e dos lírios do campo (Mt 6,26.28), da casa construída
na rocha (Mt 7,24). Mas agora, no capítulo 13, as parábolas começam a ter um
significado especial: servem para revelar o mistério do Reino de Deus presente
no meio do povo e na atividade de Jesus.
* Mateus
13,4-8: A parábola da semente retrata a vida do camponês.
Naquele tempo, não era fácil viver da agricultura. O
terreno tinha muitas pedras. Muito mato. Pouca chuva, muito sol. Além disso,
muitas vezes, o povo encurtava estrada e, passando no meio do campo, pisava nas
plantas (Mt 12,1). Mesmo assim, apesar de tudo isso, todo ano, o agricultor
semeava e plantava, confiando na força da semente, na generosidade da natureza.
A parábola do semeador descreve o que todos sabiam e faziam: a semente jogada
pelo agricultor vai caindo. Uma parte cai à beira do caminho; outra parte, nas
pedras ou entre os espinhos; outra parte em terra boa, onde, de acordo com a
qualidade do terreno, vai produzindo trinta, sessenta e até cem. Uma parábola é
uma comparação. Ela usa as coisas conhecidas e visíveis da vida para explicar
as coisas invisíveis e desconhecidas do Reino de Deus. O povo da Galiléia
entendia de semente, de terreno, chuva, sol, e colheita. Ora, eram exatamente
estas coisas conhecidas do povo que Jesus usou na parábola para explicar o
mistério do Reino.
* Mateus
13,9: Quem tem ouvidos ouça
A expressão “Quem
tem ouvidos ouça” significa: “É isso!
Vocês ouviram. Agora tratem de entender!” O caminho para chegar ao
entendimento da parábola é a busca: “Tratem de entender!” A parábola não
entrega tudo pronto, mas leva a pensar e faz descobrir a partir da própria
experiência que os ouvintes têm da semente. Provoca a criatividade e a
participação. Não é uma doutrina que já vem pronta para ser ensinada e
decorada. A Parábola não dá água engarrafada, mas entrega a fonte. O agricultor
que escutou a parábola, diz: “Semente no terreno, eu sei o que é! Mas Jesus diz
que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que seria?” E aí você pode imaginar
as longas conversas do povo! A parábola mexe com o povo e leva a escutar a
natureza e a pensar na vida. Certa vez, alguém perguntou numa comunidade:
“Jesus falou que devemos ser sal. Para que serve o sal?” Discutiram e, no fim,
encontraram mais de dez finalidades diferentes para o sal! Aí foram aplicar
tudo isto à vida da comunidade e descobriram que ser sal é difícil e exigente.
A parábola funcionou!
4) Para um confronto pessoal
1. Como foi o ensino do catecismo que você recebeu
quando criança? Foi de comparações tiradas da vida? Você lembra de alguma
comparação importante que a catequista contou? E hoje, como é a catequese na
sua comunidade?
2. Às vezes, somos caminho; outras vezes, pedra; outras
vezes, espinhos; outras vezes, é terra boa. O que sou eu? Na nossa comunidade,
o que somos? Quais os frutos que a Palavra de Deus está produzindo na minha
vida, na minha família e na nossa comunidade: trinta, sessenta ou cem?
5) Oração final
O Senhor está na sua santa morada!
no céu está o trono do Senhor.
Seus olhos observam,
suas pálpebras
interrogam os seres humanos. (Sl 10, 4)
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