REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sexta-feira da 9ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, cuja providência
jamais falha,
nós vos suplicamos
humildemente:
afastai de nós o que é
nocivo,
e concedei-nos tudo o que
for útil.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 12,35-37)
35Continuava
Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: Como dizem os escribas que
Cristo é o filho de Davi? 36Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo
Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, até que
eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Sl 109,1). 37Ora, se o
próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho? E a grande multidão ouvia-o
com satisfação.
3) Reflexão - Mc 12,35-37
* No evangelho de anteontem, Jesus criticou a doutrina dos
saduceus (Mc 12,24-27). No evangelho de hoje, ele critica o ensinamento dos
doutores da lei. E desta vez, sua crítica não visa a incoerência da vida deles,
mas sim o ensinamento que eles transmitem ao povo. Numa outra ocasião, Jesus
tinha criticado a incoerência deles e tinha dito ao povo: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei
de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas
não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam” (Mt 23,2-3). Agora,
ele mostra uma reserva com relação ao que eles ensinam a respeito da esperança
messiânica, e ele baseia a sua crítica em argumentos tirados da Bíblia.
* Marcos 12,35-36: O
ensinamento dos doutores da Lei sobre o Messias.
A propaganda oficial tanto do governo como dos
doutores da Lei dizia que o Messias viria como Filho de Davi. Era a maneira de ensinar que o Messias seria um rei
glorioso, forte e dominador. Assim foi o grito do povo no Domingo de Ramos:
"Bendito o Reino que vem do nosso pai Davi!" (Mc 11,10). Assim também
gritou o cego de Jericó: "Jesus, filho de Davi, tem dó de mim!" (Mc
10,47).
* Marcos 12,37: Jesus
questiona o ensinamento dos doutores sobre o Messias
Jesus questiona este ensinamento dos doutores. Ele
cita um salmo de Davi: “O Senhor disse ao
meu senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo
dos teus pés!” (Sl 110,1) E Jesus acrescenta: “Se o próprio Davi o chama de meu Senhor, como é que o messias pode ser
filho dele?” Isto significa que Jesus não concordava muito com esta idéia
de um messias Senhor Glorioso, que viria como rei poderoso para dominar e se
impor sobre todos os inimigos. Marcos acrescenta que o povo gostou da crítica
de Jesus. De fato, a história informa que os “pobres de Javé “ (anawim)
esperavam o messias não como dominador, mas sim como servidor de Deus para a
humanidade.
* As várias formas de esperança messiânica. Ao longo dos séculos, a esperança messiânica foi
crescendo, tomando várias formas. Quase todos os grupos e movimentos da época
de Jesus esperavam a chegada do Reino, mas cada um do seu jeito: fariseus,
escribas, essênios, zelotes, herodianos, saduceus, os profetas populares, os
discípulos de João Batista, os pobres de Javé. Pode-se distinguir três
tendências na esperança messiânica do povo no tempo de Jesus.
1. Messias como enviado
pessoal de Deus: Para uns, o futuro Reino devia chegar
através de um enviado de Deus, chamado Messias ou Cristo. Ele seria ungido para
poder realizar esta missão (Is 61,1). Alguns esperavam que ele fosse um profeta; outros, que fosse um rei, um discípulo ou um sacerdote.
Malaquias, por exemplo, espera o profeta Elias (Mal 3,23-24). O Salmo 72 espera
um rei ideal, um Novo Davi. Isaías ora espera um discípulo (Is 50,4), ora um
profeta (Is 61,1). O espírito impuro gritava: "Eu sei quem tu és o Santo
de Deus! (Mc 1, 24). Sinal de que também havia gente que esperava um messias
que fosse sacerdote (Santo ou Santificado). Os pobres de Javé (anawim)
esperavam o Messias como o “Servo de Deus”, anunciado por Isaías.
2. Messianismo sem
messias. Para outros, o futuro chegaria de repente, sem
mediação nem ajuda de ninguém. O próprio Deus viria em pessoa para realizar as
profecias. Não haveria um messias propriamente dito. Seria um messianismo sem
messias. Isto já se percebe no livro de Isaías, onde o próprio Deus vem
chegando trazendo a vitória na mão (Is 40,9-10; 52,7-8).
3. O Messias já chegou.
Também havia grupos que já não esperavam o messias. Para eles a situação
presente devia continuar como estava, pois achavam que o futuro já tinha
chegado. Estes grupos não eram populares. Por exemplo, os saduceus não
esperavam o messias. O herodianos achavam que Herodes fosse o rei messiânico.
4. A luz da ressurreição.
A Ressurreição de Jesus é a luz que, de repente, iluminou todo o passado. À luz
da ressurreição, os cristãos começaram a reler o Antigo Testamento e
descobriram nele sentidos novos que antes não podiam ser descobertos, porque
faltava a luz (cf 2Cor 3,15-16). É no AT que eles buscavam as palavras para
expressar a nova vida que estavam vivendo em Cristo. É lá que encontraram a
maior parte dos títulos de Jesus: Messias (Sl 2,2), Filho do Homem (Dn 7,13; Ez
2,1), Filho de Deus (Sl 2,7; 2 Sm 7,13), Servo de Javé (Is 42,1; 41,8),
Redentor (Is 41,14; Sl 19,15; Rt 4,15), Senhor (LXX) (quase 6000 vezes!). Todos
os grandes temas do AT desembocam em Jesus e encontram nele a sua plena
realização. Na ressurreição de Jesus desabrochou a semente e, no dizer dos Pais
da Igreja, todo o Antigo Testamento se tornou Novo Testamento.
4) Para um confronto pessoal
1) Qual é a sua esperança para o futuro do mundo de
hoje em que vivemos?
2) A fé na Ressurreição tem alguma influência na
maneira de você viver sua vida?
5) Oração final
Espero, Senhor, o vosso auxílio,
e cumpro os vossos mandamentos.
Guardo os vossos preceitos e as vossas ordens,
porque ante vossos olhos está minha vida inteira. (Sl
118,166.168)
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