REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sexta-feira da 10ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, fonte de todo bem,
atendei ao nosso apelo
e fazei-nos, por sua
inspiração,
pensar o que é certo
e realizá-lo com vossa ajuda.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 5,27-32)
27Ouvistes
que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. 28Eu, porém, vos
digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou
com ela em seu coração. 29Se teu olho direito é para ti causa de
queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só
dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena. 30E
se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti,
porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo
inteiro seja atirado na geena. 31Foi também dito: Todo aquele que
rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 32Eu, porém, vos
digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser
que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher
rejeitada comete um adultério.
3) Reflexão - Mt 5,27-32
* No evangelho de ontem, Jesus fez uma releitura do mandamento
“Não Matarás” (Mt 5,20-26). No
evangelho de hoje, ele faz uma releitura do mandamento “Não cometer adultério”. Jesus relê a lei a partir da intenção que
Deus tinha ao proclamá-la, séculos atrás, no Monte Sinai. Ele procura o
Espírito da Lei e não se fecha dentro da letra. Ele retoma e defende os grandes
valores da vida humana que estão por de trás de cada um dos Dez Mandamentos.
Ele insiste no amor, na fidelidade, na misericórdia, na justiça, na
veracidade, na humanidade (Mt 9,13; 12,7; 23,23; Mt 5,10; 5,20; Lc 11,42;
18,9). O resultado da observância plena da Lei de Deus é a humanização perfeita
da vida. A observância da Lei humaniza a pessoa. Em Jesus aparece aquilo que
acontece quando um ser humano deixa Deus tomar conta da sua vida. O objetivo último é unir os dois amores, a construção
da fraternidade em defesa da vida. Quanto maior a fraternidade, tanto maior
será a plenitude da vida e maior a adoração das criaturas todas ao Deus Criador
e Salvador.
* No evangelho de hoje, Jesus olha de perto o relacionamento
mulher e homem no casamento, a base fundamental da convivência em família.
Havia um mandamento que dizia: “Não cometer adultério”, e um outro que dizia:
“Quem se divorciar da sua mulher lhe dê uma certidão de divórcio”. Jesus retoma
os dois e lhes dá um novo sentido.
* Mateus 5,27-28: Não cometer adultério
O
que pede de nós este mandamento? A resposta antiga era esta: o homem não pode
dormir com a mulher do outro. É o que exigia a letra do mandamento. Mas Jesus
vai além da letra e diz: “Eu, porém, lhes
digo: todo aquele que olha para uma mulher e deseja possuí-la, já cometeu
adultério com ela no coração”. O objetivo do mandamento é a fidelidade
mútua entre o homem e a mulher que assumiram viver juntos como casados. E esta
fidelidade só será completa, se os dois souberam manter a fidelidade mútua até
no pensamento e no desejo e se souberem chegar a uma total transparência entre
si.
* Mateus 5,29-30: Arrancar o olho e cortar a mão
Para
ilustrar o que acaba de dizer Jesus traz uma palavra forte que ele usou também
em outra ocasião quando tratava do escândalo aos pequenos (Mt 18,9 e Mc 9,47).
Ele diz: “Se o olho direito leva você a
pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que o seu corpo
todo ser jogado no inferno”. E ele afirma o mesmo a respeito da mão. Estas
afirmações não podem ser tomadas ao pé da letra. Elas indicam a radicalidade e
a seriedade com que Jesus insiste na observância deste mandamento.
* Mateus 5,31-32: A questão do divórcio
Ao
homem era permitido dar uma certidão de divórcio para a mulher. Jesus dirá no
Sermão da Comunidade que Moisés o permitiu por causa da dureza do coração do
povo (Mt 19,8). “Eu, porém, lhes digo:
todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por causa de fornicação,
faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada,
comete adultério". Muita discussão já foi feita em torno deste
assunto. Baseando-se nesta afirmação de Jesus, a igreja oriental permite o
divórcio no caso de “fornicação”, isto é, de infidelidade. Outros dizem que,
aqui, a palavra fornicação traduz um
termo aramaico ou hebraico zenuth que
indicava um casamento dentro de um grau parentesco proibido. Não seria um
casamento válido.
* Qualquer que seja a interpretação correta desta palavra, o
que importa é ver o objetivo e o sentido geral das afirmações de Jesus na nova
leitura que ele faz dos Dez Mandamentos. Jesus aponta um ideal que deve estar
sempre diante dos meus olhos. O ideal último é este: “ser perfeito como o pai
de céu é perfeito” (Mt 5,48). Este ideal vale para todos os mandamentos
revistos por Jesus. Na releitura do mandamento “Não cometer adultério“, este
ideal se traduz na total e radical transparência e honestidade entre marido e
mulher. Ninguém nunca vai poder dizer: “Sou perfeito como o Pai do céu é
perfeito”. Estaremos sempre abaixo da medida. Nunca vamos poder merecer o
prêmio pela nossa observância que sempre será abaixo da medida. O que importa é
manter-se na caminhada, manter o ideal diante dos olhos, sempre! Mas ao mesmo
tempo, como Jesus, devemos saber aceitar as pessoas com a mesma misericórdia
com que ele aceitava as pessoas e as orientava para o ideal. Por isso, certas
exigências jurídicas da igreja hoje, como por exemplo, não permitir a comunhão
a pessoas que vivem em segundas núpcias, parecem mais com os fariseus do que
com a atitude de Jesus. Ninguém aplica ao pé da letra a explicação do
mandamento “Não Matar”, onde Jesus diz que todo aquele que chama seu irmão de idiota merece o inferno (Mt 5,22). Pois
neste caso, todos já teríamos viagem garantida até lá e ninguém se salvaria.
Por que a doutrina nossa usa medidas diferentes no caso do quinto e do nono
mandamento?
4) Para um confronto pessoal
1) Você consegue viver a total
honestidade e transparência com as pessoas do outro sexo?
2) Como entender a exigência “ser
perfeito como o Pai celeste é perfeito”?
5) Oração final
A vossa face, ó Senhor, eu a procuro.
Não escondais de mim vosso semblante,
não afasteis com ira o vosso servo.
Vós sois o meu amparo, não me rejeiteis.
Nem me abandoneis, ó Deus, meu Salvador. (Sl
26,8-9)
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