REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 11ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Ó Deus, força daqueles que
esperam em vós,
sede favorável ao nosso
apelo,
e como nada podemos em nossa
fraqueza,
dai-nos sempre o socorro da
vossa graça,
para que possamos querer e
agir conforme vossa vontade,
seguindo os vossos
mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 5,38-42)
Naquele tempo disse Jesus: 38Tendes ouvido o que foi dito:
Olho por olho, dente por dente. 39Eu, porém, vos digo: não resistais
ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. 40Se
alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. 41Se
alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil. 42Dá
a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado. Palavra da Salvação.
3) Reflexão - Mt 5,38-42
* O
evangelho de hoje faz parte de uma pequena unidade literária que vai desde Mt
5,17 até Mt 5,48, na qual se descreve como passar da antiga justiça dos
fariseus (Mt 5,20) para a nova justiça do Reino de Deus (Mt 5,48). Descreve
como subir a Montanha das Bem-aventuranças, de onde Jesus anunciou a nova Lei
do Amor. O grande desejo dos fariseus era alcançar a justiça, ser justo diante
de Deus. Este é também o desejo de todos nós. Justo é aquele ou aquela que
consegue viver no lugar onde Deus o quer. Os fariseus se esforçavam para
alcançar a justiça através da observância estrita da Lei. Pensavam que era pelo
próprio esforço que poderiam chegar até o lugar onde Deus os queria, Jesus toma
posição
diante desta prática e anuncia a nova justiça que deve ultrapassar a justiça dos fariseus (Mt 5,20). No evangelho de
hoje estamos quase chegando no topo da montanha. Falta pouco. O topo é descrita com a frase: “Sede perfeito como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48), que
meditaremos no evangelho de amanhã. Vejamos de perto este último degrau que nos
falta para chegar ao topo da Montanha, da qual São João da Cruz diz: “Aqui
reinam o silêncio e o amor”.
* Mateus 5,38: Olho por olho, dente por dente
Jesus cita um
texto da Lei antiga dizendo: "Vocês ouviram o que foi dito: Olho por olho e
dente por dente!”. Ele abreviou o
texto. O texto inteiro dizia: ”Vida por
vida, olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por
golpe” (Ex 21,23-25). Como nos casos anteriores, também aqui Jesus faz uma
releitura inteiramente nova. O
princípio
“olho por olho, dente por dente” estava na raiz da interpretação que os escribas faziam da lei. Este princípio deve
ser subvertido, pois ele perverte e estraga o relacionamento entre as pessoas e
com Deus.
* Mateus 5,39ª: Não retribuir o mal com o mal
Jesus afirma
exatamente o contrário: “Eu, porém, lhes
digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês”. Diante de uma violência recebida, nossa reação
natural é pagar o outro com a mesma moeda. A vingança pede “olho por olho,
dente por dente”. Jesus pede para retribuir o mal não com o mal, mas com o bem.
Pois, se não soubermos superar a violência recebida, a espiral da violência
tomará conta de tudo e já não haverá mais saída. Lameque dizia: “Por uma ferida recebida, eu matarei um
homem, e por uma cicatriz matarei um jovem. Se a vingança de Caim valia por
sete, a de Lamec valerá por setenta e sete” (Gn 4,24). Foi por causa desta
vingança extremada que tudo terminou na confusão da Torre de Babel (Gn 11,1-9).
Fiel ao ensinamento de Jesus, Paulo escreve na carta aos Romanos: “Não paguem a ninguém o mal com o mal; a
preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens. Não se deixe vencer
pelo mal, mas vença o mal com o bem”. (Rm 12,17.21). Para poder ter esta
atitude é necessário ter muita fé na possibilidade da recuperação do ser
humano. Como fazer isto na prática. Jesus oferece 4 exemplos concretos.
* Mateus 5,39b-42: Os quatro exemplos para superar a
espiral da violência
Jesus diz: “Pelo contrário: (1) se alguém lhe dá um tapa na face
direita, ofereça também a esquerda!
(2) Se alguém faz um processo para tomar de você a túnica, deixe também
o manto! (3) Se alguém obriga você
a andar um quilômetro, caminhe dois quilômetros com ele. (4) Dê a quem lhe pedir, e não vire as
costas a quem lhe pedir emprestado.”
(Mt 5,40-42). Como entender estas quatro afirmações? Jesus mesmo nos ofereceu
uma ajuda de como devemos entendê-las. Quando o soldado lhe deu uma bofetada
numa face, ele não ofereceu a outra. Pelo contrário, ele reagiu energicamente: "Se falei mal, mostre o que há de mal.
Mas se falei bem, por que você bate em mim?" (Jo 18,23) Jesus não
ensina passividade. São Paulo acredita que, retribuindo o mal com o bem, “você
fará o outro corar de vergonha” (Rm 12,20). Esta fé na possibilidade da
recuperação do ser humano só é possível a partir de uma raiz que nasce da total
gratuidade do amor criador que Deus mostrou para conosco na vida e nas atitudes
de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1) Você já sentiu alguma vez uma raiva tão grande de
querer aplicar a vingança “olho por olho, dente por dente”? Como fez para
supera-la?
2) Será que a convivência comunitária hoje na igreja
favorece a ter em nós o amor criador que Jesus sugere no evangelho de hoje?
5) Oração final
Senhor, ouvi minhas palavras,
escutai meus gemidos.
Atendei à voz de minha prece, ó meu rei, ó meu Deus.
É a vós que eu invoco, Senhor.
(Sl 5,2-4)
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