16 de jun. de 2013

Sábado da 11ª Semana do Tempo Comum



REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Sábado da 11ª Semana do Tempo Comum


1) Oração

Ó Deus, força daqueles que esperam em vós,
sede favorável ao nosso apelo,
e como nada podemos em nossa fraqueza,
dai-nos sempre o socorro da vossa graça,
para que possamos querer e agir conforme vossa vontade,
seguindo os vossos mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Mateus 6,24-34)

Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos: 24Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza. 25Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? 26Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? 27Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 28E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. 29Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. 30Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? 31Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? 32São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. 33Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. 34Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.

3) Reflexão   - Mt 6,24-34)
*  O evangelho de hoje nos ajuda a rever o relacionamento com os bens materiais e trata de dois assuntos de tamanho desigual: (1) nosso relacionamento com o dinheiro (Mt 6,24) e nosso relacionamento com a Providência Divina (Mt 6,25-34). Os conselhos dados por Jesus suscitam várias perguntas de difícil resposta. Por exemplo, como entender hoje a afirmação: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24)? Como entender a recomendação de não nos preocupar com comida, bebida e roupa (Mt 6,25)?
Mateus 6,24: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro
*  Jesus é muito claro na sua afirmação: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro". Cada um, cada uma, terá que fazer uma escolha. Terá que se perguntar: “Quem eu coloco em primeiro lugar na minha vida: Deus ou o dinheiro?” Desta escolha dependerá a compreensão dos conselhos que seguem sobre a Providência Divina (Mt 6,25-34). Não se trata de uma escolha feita só com a cabeça, mas de uma escolha bem concreta de vida que envolve as atitudes.
Mateus 6,25: Jesus critica a preocupação demasiada com comida e roupa
Esta crítica de Jesus até hoje provoca muito espanto no povo, pois a grande preocupação de todo pai e mãe de família é com comida e roupa para os filhos. O motivo da crítica é que a vida vale mais do que comida e o corpo vale mais do que a roupa. Para esclarecer sua crítica Jesus traz duas parábolas: dos passarinhos e das flores. 
Mateus 6,26-27: A parábola dos passarinhos: a vida vale mais que a comida
Jesus manda olhar os passarinhos. Não semeiam, não têm armazém, e no entanto sempre têm o que comer, porque o Pai do céu os alimenta. “E vocês valem mais que os passarinhos!” O que Jesus critica é quando a preocupação pela comida ocupa todo o horizonte da vida das pessoas, não deixando mais espaço para se experimentar e saborear a gratuidade da fraternidade e da pertença ao Pai. Por isso, criminoso é o sistema neo-liberal que obriga a grande maioria das pessoas a viverem 24 horas por dia preocupadas com comida e roupa, e que provoca na outra pequena minoria rica uma ânsia de comprar e de consumir a ponto de não deixar mais espaço para outra coisa. Jesus diz que a vida vale mais do que os bens de consumo! O sistema neoliberal impede a vivência do Reino.
3. Mateus 6,28-30: A parábola dos lírios: o corpo vale mais que a roupa
Jesus manda olhar as flores, os lírios do campo. Com que elegância e beleza Deus as veste! “Ora, se Deus veste assim o capim, quanto mais a vocês, pessoas fracas na fé!” Jesus coloca um lembrete nas coisas da natureza, para que, vendo as flores e o capim, a gente se lembre da missão que temos de lutar pelo Reino e de criar uma convivência nova que possa garantir comida e roupa para todos.
Mateus 6,31-32: Não ser como os pagãos
Jesus retoma a crítica contra a preocupação demasiada com comida, bebida e roupa. E conclui: “São os pagãos que se preocupam com tudo isso!” Deve haver uma diferença na vida dos que têm fé em Jesus e dos que não tem fé em Jesus. Os que tem fé em Jesus partilham com ele a experiência de gratuidade de Deus como Pai, Abba. Esta experiência da paternidade deve revolucionar a convivência. Deve gerar uma vida comunitária que seja fraterna, semente de nova sociedade.
Mateus 6,33-34: O Reino em primeiro lugar
Jesus aponta dois critérios: “Buscar primeiro o Reino” e “Não preocupar-se com o dia de amanhã”. Buscar em primeiro lugar o Reino e a sua justiça significa buscar realizar a vontade de Deus e permitir que Deus possa reinar em nossas vidas. A busca de Deus se traduz concretamente na busca de uma convivência fraterna e justa. Onde houver esta preocupação pelo Reino, nascerá uma vida comunitária em que todos viverão como irmãos e irmãs e ninguém mais passará necessidade. Aí não haverá mais preocupação com o dia de amanhã, isto é, não haverá mais preocupação em acumular.
Buscar primeiro o Reino de Deus e a sua justice
O Reino de Deus deve ser o centro de toda a nossa preocupação. O Reino pede uma convivência, onde não haja acumulação e sim partilha, para que todos possam ter o necessário para viver. O Reino é a nova convivência fraterna, em que cada pessoa se sente responsável pela outra. Esta maneira de ver o Reino ajuda a entender melhor as parábolas dos passarinhos e das flores, pois para Jesus a Providência Divina passa pela organização fraterna. Preocupar-se com o Reino e a sua justiça é o mesmo que preocupar-se em aceitar Deus como Pai e em ser irmão e irmã uns dos outros. Frente ao crescente empobrecimento causado pelo neoliberalismo econômico, a saída concreta que o evangelho nos apresenta e os pobres encontraram para a sua sobrevivência é a solidariedade e a organização.
*  Uma faca afiada na mão de uma criança pode ser arma mortal. Uma faca afiada na mão de uma pessoa amarrada com cordas é arma que salva. Assim são as palavras de Jesus sobre a Providência Divina. Seria anti-evangélico dizer a um pai de famílias desempregado, pobre, com oito filhos, e mulher doente: "Não se preocupe com o que vai comer e beber! Por que ficar preocupado com roupa e saúde?" (Mt 6,25.28). Isto só podemos dize-lo quando nós mesmos, imitando a Deus como Jesus, nos organizarmos entre nós para realizar a partilha dos bons, garantindo assim ao irmão a sobrevivência. Do contrário seríamos como os três amigos de Jó que, para defender a Deus, contavam mentiras sobre a vida humana (Jó 13,7). Seria “leiloar um órfão e traficar um amigo" (Jóַ 7,27). Na boca do sistema dos ricos, estas mesmas palavras podem ser armas mortais contra os pobres. Na boca do pobre, elas podem ser uma saída real e concreta para uma convivência melhor, mais justa e mais fraterna. 

4) Para um confronto pessoal
1. Como eu entendo e vivo a confiança na Providência Divina?
2. Como cristãos temos a missão de dar uma expressão concreta àquilo que nos anima por dentro. Qual a expressão que estamos dando à nossa confiança na Divina Providência?

5) Oração final

Indicai-me, Senhor, o caminho dos teu decretos
e o seguirei até o fim.
Dai-me inteligência pra que observe a tua lei
e a guarde com todo o coração. (Sl 118)




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