REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 12ª Semana do Tempo Comum
1) Oração
Senhor, nosso Deus,
dai-nos por toda a vida
a graça de vos amar e temer,
pois nunca cessais de
conduzir
os que formais no vosso
amor.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 7,21-29)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos 21Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor,
entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está
nos céus. 22Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios
e fizemos muitos milagres? 23E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos
conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! 24Aquele, pois, que
ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente,
que edificou sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as
enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não
caiu, porque estava edificada na rocha. 26Mas aquele que ouve as
minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que
construiu sua casa na areia. 27Caiu a chuva, vieram as enchentes,
sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua
ruína. 28Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou
impressionada com a sua doutrina. 29Com efeito, ele a ensinava como
quem tinha autoridade e não como os seus escribas.
3) Reflexão - Mt 7,21-29
* O
Evangelho de hoje traz a parte final do Sermão da Montanha: (1) não
basta falar e cantar, é preciso viver e praticar (Mt 7,21-23). (2) A comunidade
construída em cima do fundamento da nova Lei do Sermão da Montanha ficará em pé na hora da tempestade (Mt 7,24-27). (3) O resultado
das palavras de Jesus nas pessoas é uma consciência mais crítica com relação aos líderes
religiosos, os escribas (Mt 7,28-29).
* Este final do Sermão da Montanha desenvolve algumas
oposições ou contradições que continuam atuais até nos dias de hoje: (1) Há
pessoas que falam continuamente de Deus, mas se esquecem de fazer a vontade de
Deus; usam o nome de Jesus, mas não traduzem em vida sua relação com o Senhor
(Mt 7,21). (2) Há pessoas que vivem na ilusão de estarem trabalhando para o
Senhor, mas no dia do encontro definitivo com Ele, descobrem, tragicamente, que
nunca o conheceram (Mt 7,22-23). As duas parábolas finais do Sermão da
Montanha, da casa construída sobre a rocha (Mt 7,24-25) e da casa construída
sobre a areia (Mt 7,26-27), ilustram estas contradições. Por meio delas Mateus
denuncia e, ao mesmo tempo, tenta corrigir a separação entre fé e vida, entre
falar e fazer, entre ensinar e praticar.
* Mateus 7,21: Não basta falar, é preciso
praticar
O importante não
é falar bonito sobre Deus ou saber explicar bem a Bíblia para os outros, mas é
fazer a vontade do Pai e, assim, ser uma revelação do seu rosto e da sua
presença no mundo. A mesma recomendação foi dada por Jesus àquela mulher que
elogiou Maria, sua mãe. Jesus respondeu: “Felizes os que ouvem a Palavra e a
põem em prática” (Lc 11,28).
* Mateus 7,22-23: Os dons devem estar a serviço do
Reino, da comunidade.
Havia pessoas com dons extraordinários como, por
exemplo, o dom da profecia, do exorcismo, das curas, mas elas usavam os dons
para si mesmas, fora do contexto da comunidade. No julgamento, elas ouvirão uma
sentença dura de Jesus: "Afastem-se
de mim vocês que praticam a iniqüidade!". Iniqüidade é o oposto de
justiça. É fazer com Jesus o que alguns doutores faziam com a lei: ensinavam
mas não praticavam (Mt 23,3). Paulo dirá a mesma coisa com outras palavras e
argumentos: “Ainda que eu tivesse o dom
da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda
que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o
amor, eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos
famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor,
nada disso me adiantaria”. (1Cor 13,2-3).
* Mateus 7,24-27: A parábola da casa na rocha.
Ouvir e praticar, esta é a conclusão final do Sermão
da Montanha. Muita gente procurava sua segurança nos dons extraordinários ou
nas observâncias. Mas a segurança verdadeira não vem do prestígio nem das
observâncias, não vem de nada disso. Ela vem de Deus! Vem do amor de Deus que
nos amou primeiro (1Jo 4,19). Seu amor por nós, manifestado em Jesus ultrapassa
tudo (Rom 8,38-39). Deus se torna fonte de segurança, quando procuramos
praticar a sua vontade. Aí, Ele será a rocha que nos sustenta na hora das
dificuldades e das tempestades.
* Mateus 7,28-29: Ensinar com autoridade
O evangelista encerra o Sermão da Montanha dizendo que
a multidão ficou admirada com o ensinamento de Jesus, porque "ele ensinava com autoridade, e não
como os escribas". O resultado do ensino de Jesus é a consciência mais
crítica do povo com relação às autoridades religiosas da época. Suas palavras
simples e claras brotavam da sua experiência de Deus, da sua vida entregue ao
Projeto do Pai. O povo estava admirado e aprovava os ensinamentos de Jesus.
* Comunidade:
casa na rocha
No livro dos Salmos, frequentemente encontramos a
expressão: “Deus é a minha rocha e a minha fortaleza... Meus Deus,
rocha minha, meu refúgio, meu
escudo, força que me salva...”(Sl 18,3). Ele é a defesa e a força de quem
nele acredita e busca a justiça (Sl 18,21.24). As pessoas que confiam neste
Deus, tornam-se, por sua vez, uma rocha
para os outros. Assim, o profeta Isaías faz um convite ao povo que estava no
cativeiro: "Vocês que estão à
procura da justiça e que buscam a Deus! Olhem para a rocha da qual foram talhados, para a pedreira da qual foram
extraídos. Olhem para Abraão, seu pai, e para Sara, sua mãe” (Is 51,1-2). O
profeta pede para o povo não esquecer o passado. O povo deve lembrar como
Abraão e Sara pela fé em Deus se tornaram rocha, começo do povo de Deus.
Olhando para esta rocha, o povo devia criar coragem para lutar e sair do
cativeiro. Do mesmo modo, Mateus exorta as comunidades para que tenham como
alicerce a mesma rocha (Mt 7,24-25) e possam, dessa maneira, elas mesmas ser
rocha para fortalecer os seus irmãos e irmãs na fé. Este é o sentido do nome
que Jesus deu a Pedro: “Você é Pedro e
sobre esta pedra construirei a minha
Igreja” (Mt 16,18). Esta é a vocação das primeiras comunidades, chamadas a
unir-se a Jesus, a pedra viva, para tornarem-se, também elas, pedras vivas pela
escuta e pela prática da Palavra (Pd 2,4-10; 2,5; Ef 2,19-22).
4) Para um confronto pessoal
1) Como a nossa comunidade equilibra oração e ação,
louvor e prática, falar e fazer, ensinar e praticar? O que deve melhorar na
nossa comunidade, para que ela seja rocha, casa segura e acolhedora para todos?
2) Qual a rocha que sustenta a nossa Comunidade? Qual
o ponto em que Jesus mais insiste?
5) Oração final
Ajudai-nos, ó Deus salvador,
pela glória de vosso nome;
livrai-nos e perdoai-nos os nossos pecados
pelo amor de vosso nome. (Sl 78,9)
Nenhum comentário:
Postar um comentário